Correio Braziliense, n. 21485, 12/01/2022. Política, p. 2

PT recua e fala em pós-reforma trabalhista


Depois de o PT provocar controvérsia ao sugerir que, se voltar ao poder, revogará medidas econômicas, como a reforma trabalhista, o discurso de integrantes do partido, agora, é de que não haverá revogaço e, sim, uma pós-reforma, como está ocorrendo na Espanha. 

Segundo aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — líder das pesquisas de intenção de voto para as eleições deste ano —, o petista defende um diálogo entre empresários, sindicatos e o Executivo em busca de entendimento. Ontem, ele se reuniu com sindicalistas e representantes do governo da Espanha, em São Paulo, para discutir as mudanças que estão sendo feitas na legislação daquele país (leia reportagem ao lado).

O deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) foi um dos que rechaçaram a possibilidade de revogação. Segundo o parlamentar, o partido propõe, na verdade, um “conserto” das reformas em vigência no país. “Não é um ‘revogaço’. Precisamos fazer um trabalho de revisão dessas alterações. Essa reforma precariza a relação do trabalho no país”, argumentou. “Estamos iniciando um debate sobre o Brasil, e não pode ter nenhum tema proibido. Quem defendeu cegamente todas as reformas porque elas gerariam 10 milhões de empregos precisa se explicar agora.”

O deputado federal Afonso Florence (PT-BA) sustentou que a pauta a respeito da revisão da reforma trabalhista é legítima e atual. “O que o PT está cogitando é abrir um debate nacional sobre o assunto, ou seja, como vai ficar, e isso não é só revogar para ser como era antes”, disse.

Florence criticou a reforma levada a cabo no governo Michel Temer e pediu mais cautela para a revisão dos trechos. “Votamos contra porque ela retira direitos, por precarizar o trabalho, e é notório que os resultados que foram propalados não se confirmaram”, frisou. “Não vai ser uma canetada nem uma maioria apressada, como foi na aprovação da reforma trabalhista e previdenciária.”

Na avaliação do economista e ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa, a revisão da legislação trabalhista é necessária. “A reforma que Temer fez desbalanceou muito a relação entre empresas e trabalhadores. Enfraqueceu muito o poder dos trabalhadores”, destacou. “É preciso repensar as coisas que foram colocadas para dar mais direitos aos trabalhadores autônomos, de aplicativos. O mundo todo está discutindo isso, e o Brasil vai ter de discutir também.”

Teto de gastos

Além da reforma trabalhista, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), defendeu a revogação da lei que instituiu o teto de gastos, conforme postou nas redes sociais.

Para Nelson Barbosa, a proposta do teto parecia ser eficiente quando foi aprovada, mas, agora, carece de mudanças. “A meta de gastos criada pelo governo Temer é uma meta inadequada para o Brasil. Já era inadequada quando foi criada, só que levou um tempo para nós, economistas, percebermos isso”, afirmou.

Na avaliação do cientista político Valdir Pucci, caso o PT queira vencer as eleições presidenciais de 2022, tem de se aproximar das alas de centro. “O partido tem feito essa discussão de forma errônea. Ele precisa atrair para si o centro. Mas colocar a reforma do jeito que a Gleisi Hoffmann colocou, por exemplo, é prejudicial à atração de eleitores de centro para o partido, inclusive chega a dificultar uma possível aliança de Lula com (Geraldo ) Alckmin na chapa”, analisou.

Lula e Alckmin não têm posições antagônicas sobre a revisão da reforma. Cotado para ser vice na chapa do petista, o ex-tucano acredita que o tema deve ser debatido com clareza e sem açodamento.