Título: Crédito ameaça inflação
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 30/04/2005, Economia, p. A19
Em uma semana em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o brasileiro ''não levanta o traseiro'' para procurar bancos com juros baixos e um dia depois de a ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) indicar a possibilidade de mais um arrocho monetário, o crédito com desconto em folha foi apontado como mais um vilão para a alta dos juros básicos.
Segundo o diretor da área financeira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Kawall, a subestimação do crédito consignado é um dos fatores que podem levar a um aperto monetário mais forte que o previsto. Segundo ele, o estímulo ao crédito pode fazer com que o consumidor não sinta integralmente os movimentos da taxa básica de juros.
- Isso não quer dizer que a política monetária não funcione, pelo contrário, quer dizer que talvez o aperto monetário acabe sendo mais contundente do que se esperava de início para produzir efeito - disse. O diretor citou também a Lei de Falências e a redução do spread (diferença entre taxa de captação e a efetivamente cobrada aos clientes) no mercado financeiro como incentivadores do consumo.
Para Kawall, que participou de seminário promovido pela Associação dos Bancos no Estado do Rio de Janeiro (Aberj) sobre política monetária e crédito, há surpresa com o desempenho do crédito consignado.
- O acesso ao crédito nunca foi tão favorável. Nos últimos 20 anos, não me lembro de nada semelhante.
Também presente ao seminário, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco comparou o papel dos juros no Brasil hoje ao da hiperinflação nos anos 80. Segundo ele, os juros no Brasil sempre foram altos e nenhum dos dirigentes do BC até hoje conseguiu reduzi-los de fato.
- Muitos dirigentes passaram pelo Banco Central e nenhum de nós conseguiu reduzir os juros reais para níveis que possam ser considerados civilizados - afirmou.
O diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, reconheceu que os juros reais são altos, mas afirmou que vêm caindo ao longo dos anos.
- Não há evidência de que sejam mais elevados do que o necessário para converter a inflação às metas estabelecidas.