Título: Eurides abandona CPI da Educação
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 30/04/2005, Brasília, p. D1

A deputada Eurides Brito (PMDB) retirou-se da CPI da Educação da Câmara Legislativa. Ontem pela manhã, antes dos depoimentos de cinco testemunhas, Eurides avisou que estava deixando os trabalho de investigação, que passariam pela sua gestão na Secretaria de Educação, entre 1999 e 2003. A distrital vinha sendo pressionada por colegas para deixar a vaga desde que foi acusada por um depoente, o ex-presidente da Comissão Permanente de Licitação da secretaria Achilles de Santana, de ter ordenado o favorecimento de empresas em processos licitatórios. Deverá assumir a vaga o suplente João de Deus (PMDB), titular na CPI da Saúde. A substituição, porém, será definida apenas na segunda-feira, durante reunião da bancada.

- Tenho apoio do meu partido. Esta é uma decisão pessoal que não foi tomada por pressão. Saio com a consciência tranqüila, depois de refletir bastante - afirmou Eurides em discurso.

Antes de deixar o plenário, porém, a deputada pediu aos quatro integrantes que cobrassem de Achilles a data em que ele diz ter almoçado com ela para, supostamente, tratar da desabilitação da empresa Esave da licitação de transporte escolar realizada em 2003. De acordo com o ex-servidor, a distrital teria revelado, nesse encontro, interesses sobre a vitória da Moura Transportes no processo.

Há duas semanas, quando sua saída começou a ser estimulada pelos colegas, Eurides disse que só deixaria a comissão caso também abandonassem a CPI dois distritais considerados por ela sem isenção: seu desafeto declarado, José Edmar (Prona), e o presidente Augusto Carvalho (PPS), que acompanhou Manoel Carneiro (ex-tesoureiro da campanha de Eurides em 2002) ao Ministério Público, onde deflagrou uma série de denúncias.

- Ela, que fala tanto em ética, viu a posição contraditória de participar de uma CPI na qual seria investigada. Só posso elogiar - avaliou José Edmar.

Para Augusto, a atitude foi uma surpresa e favorecerá o andamento da comissão. ''Exortei-a a sair, foi uma decisão correta'', disse.

Os depoimentos começaram pela manhã e se estenderam até às 15h. Um deles, o da presidente do Sindicato dos Transportes Escolares e Turismo do DF, Eudenice Nascimento, foi feito a portas fechadas, a seu pedido. Ela afirmou estar recebendo ameaças, mas não revelou de quem.

De acordo com o relator Paulo Tadeu (PT), ela confirmou indícios da existência de um esquema para favorecimento de empresas nas licitações. Eliazar Oliveira do Carmo, representante da Associação Brasiliense de Transporte Autônomo, ratificou as suspeitas. Sua empresa participou da licitação, a qual ele acusou de ter ''nascido tendenciosa''. Além disso, Eliazar afirma que Moura, a vencedora, terceirizava o serviço até o início deste ano, o que é proibido.

- Vamos requisitar a lista de veículos de propriedade da Moura ao Detran para avaliar se ela tinha capacidade de atender o contrato - disse Augusto, ressaltando que transporte escolar é um filão ''apetitoso''. Segundo o deputado, foram gastos em 2004 R$ 27,5 milhões em contratos com transportadoras - contra apenas R$ 22 milhões em reformas e construções de novas escolas, enquanto o previsto era R$ 96,9 milhões.