Título: BC sinaliza novos aumentos de juros
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Jornal do Brasil, 29/04/2005, Economia & Negócios, p. A21
Copom culpa inflação e petróleo
O ciclo de elevação dos juros pode não ter chegado ao fim, como apostava a maioria dos economistas após a alta da taxa básica (Selic) de 19,25% para 19,5% ao ano, semana passada. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, veio com tom mais pessimista do que o esperado e destacou riscos à economia, como a inflação e a escalada dos preços do barril do petróleo. ''Cabe à política monetária manter-se especialmente vigilante para evitar que pressões detectadas em horizontes mais curtos se propaguem para horizontes mais longos'', avaliaram os membros do Copom.
Em 2005, o BC persegue meta de inflação de 5,1% (a meta original era 4,5% e foi alterada no segundo semestre de 2004) com intervalo de tolerância de 2,5 pontos percentuais. Para 2006, a meta é de 4,5% com margem de 2 pontos.
A mensagem de que futuras elevações dos juros não estão descartadas ocorre em uma semana particularmente sensível. Primeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o consumidor brasileiro é acomodado e não ''levanta o traseiro'' para buscar custos menores nos financiamentos bancários. Na terça-feira, o presidente do BC, Henrique Meirelles, viajou à Colômbia e, com isso, não compareceu à reunião no Congresso na qual prestaria esclarecimentos sobre a condução da política de juros.
Na quarta-feira, tanto o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, quanto o vice-presidente José Alencar, voltaram a criticar a autonomia operacional do BC. Com isso, saiu fortalecido o debate sobre a composição do Copom e também do Conselho Monetário Nacional (CMN).
Na ata da última reunião, o Copom apontou incertezas quanto ao comportamento dos preços do petróleo e à política de juros americana. E identificou também possíveis efeitos negativos em países emergentes do aumento na aversão ao risco no mercado de crédito dos EUA.
O Copom manteve o cenário traçado anteriormente de hipótese de que não haverá reajuste nos preços domésticos dos combustíveis em 2005 e a avaliação de que, confirmada a tendência de elevação dos preços externos, poderá haver contaminação da economia brasileira.
''Ainda que essa escalada recente não se traduza em aumento doméstico no preço da gasolina, ela tem efeitos sobre os preços de insumos derivados do petróleo e sobre as expectativas dos agentes econômicos'', analisou o Copom.
Para 2005, foi considerado que o crescimento das expectativas da inflação está relacionado aos seguintes fatores: comportamento de alguns preços administrados em valor acima do projetado, cenário internacional menos favorável e impacto da seca nos preços dos alimentos.