Título: Polícia chega a empresas envolvidas em propina
Autor: Guilherme Queiroz
Fonte: Jornal do Brasil, 30/04/2005, Brasília, p. D3

Primeira a ser identificada é de ex-presidente da Fibra, que nega envolvimento . As investigações da Polícia Civil sobre o esquema de propinas coordenado por auditores da Receita Tributária do DF revelaram a primeira das 30 empresas que estariam envolvidas com a quadrilha. Durante todo o dia de ontem, policiais confiscaram documentos e computadores na Gráfica Ipiranga e na Web Gráfica, pertencentes ao empresário Lourival Novaes Dantas e a seu filho, respectivamente. A polícia já tem outros 17 mandados de busca em empresas, que devem ser cumpridos a partir da segunda-feira. As gráficas estão entre as 30 empresas suspeitas de terem seus débitos com a Receita Tributária do DF não executados em troca de propinas pagas a um esquema liderado por dois auditores da Secretaria de Fazenda. Os auditores Sônia Maria de Andrade Santos e Sami Kuperchmit lideravam um bando composto por outras 11 pessoas, entre fiscais tributários e contadores. Todos foram presos, na quinta-feira, durante a Operação Tentáculo e são suspeitos de lesarem os cofres públicos em R$ 50 milhões apenas nos últimos seis meses.

Os computadores e os documentos apreendidos nas empresas e na casa da família de Dantas serão periciados. A polícia quer confrontar as informações obtidas nas buscas de ontem com o material confiscado nos arquivos digitais de Sami e Sônia e nos computadores de dez escritórios de contabilidade - suspeitos de intermediar o esquema de extorções - devassados na quinta-feira. A idéia é encontrar indícios de que eventuais dívidas tributárias teriam sido apagadas em troca de propina aos auditores.

- Nós vamos extrair e triangular as informações que colhemos para determinar qual o vínculo das empresas com o esquema de propinas - explica do diretor do Departamento de Atividades Especiais da Polícia Civil e coordenador das investigações, delegado Celso Ferro.

A polícia chegou à Web e à Ipiranga porque o contador Francisco Lúcio Gomes, um dos contadores presos durante a operação, prestava serviços à primeira gráfica. Segundo o proprietário da Ipiranga, Lourival Dantas, o contador foi dispensado da contabilidade da Web, em dezembro, por ''não ter dado certo''. Ele explica que a Web fora comprada de um sócio por seu filho em meados do ano passado e que as fiscalizações feitas pela auditoria tributária não encontraram irregularidades. E nega ter conhecido Sami ou Sônia.

- Não sei que tipo de ligação [com o esquema]a polícia está procurando com as empresas. Vamos aguardar o andamento das coisas - desabafou Dantas.

Segundo o delegado Celso Ferro, os 17 mandados de busca e apreensão já concedidos à polícia pela Justiça começarão a ser executados na segunda-feira. As investigações tentam ligar a quadrilha de 13 pessoas a cerca de 80 outros suspeitos, entre empresários, contadores, advogados e gerentes de empresas. A polícia instaurou 23 inquéritos criminais. O indiciados devem responder por crimes de corrupção ativa e passiva - com penas previstas de 2 a 12 anos de cadeia.

- Aqueles que tiverem participado ou cooperado de qualquer forma são considerados co-autores dos crimes - explica Ferro.

Ontem, os advogados das 13 pessoas presas tentaram entrar com pedidos de habeas corpus mas a Justiça ainda não analisou os pleitos.