Título: Trabalhadores vaiam Severino
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/05/2005, País, p. A3
O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), foi recebido com vaias pelo público que participou da festa do Dia do Trabalho da Força Sindical, ontem, na praça Campo de Bagatelle, na Zona Norte de São Paulo. Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que era esperado no evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT), na avenida Paulista, acabou não indo a nenhuma.
- Existem muitas festas de 1º de Maio em todo o país. Não dá para ir a todas - esquivou-se.
Ao tentar discursar para um público de cerca de 1 milhão de pessoas, segundo a Polícia Militar, Severino foi recebido com vaias e gestos com os dedos.
Ignorando as vaias, Severino criticou as medidas provisórias 232 e 242, que propunham aumento de impostos para prestadores de serviços e alterações na concessão do auxílio-doença, respectivamente.
- Uma nova vida para esse povo. Acabamos com a MP 232 e agora vamos acabar com esse projeto que é uma agressão ainda maior aos trabalhadores, que é a MP 242 - disse o presidente da Câmara, em meio às vaias - Faço um apelo ao presidente: não faça o povo sofrer. Precisamos da sua ajuda para a acabar com a 242.
Ao sair do palco, Severino disse que não foi vaiado. Segundo ele, as vaias foram dirigidas ao governo Lula.
- Isso acontece (ser vaiado), é ocasional, faz parte. Em vida pública, o nome já diz: é pública. Faz parte, é natural. Ele é extremamente experiente - disse o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Alckmin foi o próximo a falar, depois de Severino. Num discurso mais ameno, procurou interagir com o público. ''Quem quer música?'', perguntou para os participantes da festa. Em seguida, aproveitou para fazer uma crítica à política econômica do governo de Lula.
- O povo não agüenta mais essa mesmice de combater inflação com juro alto - atacou.
O presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, disse que boa parte do público vai à festa só para assistir aos shows musicais.
- As únicas pessoas que podem ficar aqui e falar muito tempo sem serem vaiadas são o arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, e eu. O dom Cláudio não vaiam porque têm medo de não ir para o céu. No meu caso, têm medo de não fazer outro show - disse.
Ele defendeu a atuação de Severino na Câmara.
- O Severino é uma pessoa que tem moralizado o Congresso Nacional - opinou.
Paulinho aproveitou para criticar as mudanças no auxílio-doença, propostas na MP 242.
- Lula não tem um dedo da mão. Ele perdeu esse dedo numa máquina. Como é que ele pode agora fazer essa MP que penaliza o trabalhador acidentado? - indagou.
Severino disse que a reforma sindical tem que ser feita. Segundo ele, o texto da será colocado em votação no Congresso em breve. segundo ele ainda não está definido o nome do relator do projeto.
- Dei a relatoria para o Luiz Antonio Medeiros (PL-SP) e ele passou para o Vicentinho Paulo da Silva (PT-SP). O problema é deles agora.
Ao comentar as declarações do presidente Lula, Severino negou que sua vitória para a presidência da Câmara tenha sido uma derrota do presidente.
- Foi uma derrota do PT.
Com Folhapress