Título: Votação secreta analisa cassação
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 02/05/2005, País, p. A6

Depois de seis anos, o plenário da Câmara volta a deparar-se com um processo de cassação parlamentar. Os deputados vão analisar, na próxima quarta, em votação secreta, o relatório do Conselho de Ética que pede a cassação do deputado André Luiz (sem partido-RJ). O parlamentar fluminense é acusado de pedir R$ 4 milhões para o advogado do bicheiro Carlinhos Cachoeira para, em troca, tirar o nome do contraventor do relatório final da CPI da Alerj. Ao longo de todo processo, André Luiz alegou cerceamento de defesa. Mas todos os recursos judiciais movidos por ele - tanto na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara quanto no Supremo Tribunal Federal - foram rejeitados. Ele garante que, se for cassado, não irá recorrer da decisão no STF.

- Eu estou tranqüilo. Não adianta recorrer, pois este é um processo político - justificou.

André Luiz aposta que, de hoje até quarta, vários deputados vão começar a trabalhar de forma mais efetiva para absolvê-lo. Garante que ter recebido apoio de parlamentares que se dizem revoltados com a situação. É justamente esse espírito de grupo, aliado à votação secreta, que deixa o deputado Chico Alencar (PT-RJ) sem sono.

- O risco do corporativismo sempre existe. Veja o caso do Alessandro Calazans (sem partido-RJ), que escapou da cassação aqui na Alerj - comparou Alencar.

A semelhança entre as duas situações não é apenas quanto ao formato de votação secreta, mas também no caso investigado. A exemplo de André Luiz, Calazans também era suspeito de ligações suspeitas com Cachoeira. Teve contra si um relatório do Conselho de Ética da Alerj pedindo sua cassação. Escapou com 37 votos a seu favor e 25 contra.

- Eu percebo nas ruas um sentimento de revolta contra a Assembléia Estadual. Se salvarem o André Luiz e esse sentimento se tornar nacional, será péssimo - acrescentou Alencar.

André Luiz continua atrás dos votos necessários para evitar sua cassação, a primeira depois que Sérgio Naya perdeu o mandato por quebra de decoro parlamentar. Há duas semanas, encaminhou para cada deputado um documento com cinco laudas, fazendo um resumo de todo o processo, se dizendo injustiçado e vítima de uma perseguição política movida, principalmente, pelo ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).

No plenário, fará sua defesa, em um discurso que promete ser rápido. Não terá nem advogados no local - um deles, Michel Saliba, chegou a ser preso durante o inquérito na Câmara.

- Que falta de sorte, hein? - ironizou.

Chico Alencar espera que o fato de o processo ser votado um dia após as comemorações da instalação da primeira Assembléia Legislativa no Brasil, nos idos do Império, possa inspirar os deputados.