Título: "Eixo do Mal" volta a desafiar
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Fonte: Jornal do Brasil, 02/05/2005, Internacional, p. A8
Coréia do Norte testa míssil no Mar do Japão e aiatolá iraniano faz ameaças aos Estados Unidos
TÓQUIO - A Coréia do Norte voltou a desafiar a comunidade internacional, ontem, ao realizar testes com um míssil de curto alcance sem munição. A informação foi passada à Agência de Defesa do Japão por autoridades militares americanas encarregadas de monitorar os movimentos de Pyongyang. O míssil teria sido lançado por volta de 8h, percorrendo cerca de 100 quilômetros antes de cair no Mar do Japão. A Casa Branca acusou o país de tentar ser a ''ameaça'' do mundo.
- Temos que trabalhar juntamente com nossos aliados, especialmente russos, sul-coreanos, chineses e japoneses para demonstrar que as atitudes tomadas pelo governo norte-coreano são hostis. Não queremos que eles tenham armas nucleares, na verdade, não queremos que haja qualquer arma desse tipo na Península Coreana - afirmou Andrew Card, chefe do estado-maior da Casa Branca que descreveu o líder do regime norte-coreano, Kim Jong Il, como um ''mau líder''.
Em 1998, a Coréia do Norte surpreendeu o mundo ao lançar um míssil que cruzou o território japonês e caiu no Oceano Pacífico. Acredita-se que os norte-coreanos já possuam foguetes capazes de atingir o Alasca e o Havaí. Em fevereiro, Pyonggyang admitiu pela primeira vez possuir armas nucleares desenvolvidas para fazer frente à ''política hostil de Washington''.
O teste do míssil norte-coreano soou como um alarme na véspera da conferência das Nações Unidas, que reunirá representantes de 189 países, em Nova York, para fazer uma revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. O maior objetivo do encontro é modificar o Tratado, numa tentativa de acabar com as brechas que, segundo os americanos, possibilitaram o desenvolvimento dos programas nucleares do Irã e da Coréia do Norte.
A tensão criada em torno do encontro começou já no sábado, quando Kim Jong Il afirmou que o presidente americano George Bush é ''um filisteu com quem a Coréia do Norte jamais negociará''. No mesmo dia o governo do Irã anunciou que pretende retomar a produção de combustível nuclear. Ontem, na cidade de Kerman, diante de mais de 100 mil pessoas, o líder espiritual do iraniano, aiatolá Ali Khamenei, advertiu os americanos para que ''mantenham distância do programa nuclear do seu país''. Khamenei endureceu o discurso e disse que os Estados Unidos são ''arrogantes, rudes e merecem um soco na boca''. O aiatolá acrescentou ainda que as eleições presidenciais, marcadas para o mês de junho, não devem alterar a política nuclear do Irã e que ''não cabe aos americanos decidir quais os países que precisam ou não da tecnologia''.
Enquanto isso, em Nova York, milhares de pessoas foram as ruas, ontem, para protestar contra as armas nucleares. Sobreviventes dos bombardeios americanos a Hiroshima e Nagasaki, as duas cidades japonesas destruídas por bombas atômicas lançadas por americanos no fim da Segunda Guerra Mundial, também participaram da manifestação, organizada pela União para Paz e Justiça, um grupo anti-guerra, e pela Abolição Agora, que prega a eliminação imediata de todas as armas atômicas.
A passeata que tomou as principais avenidas da cidade acabou se transformando também em protesto contra a guerra no Iraque.