Título: Fórum disseca crescimento asiático
Autor: Marcus Barros Pinto e Marcelo Kischinhevsky
Fonte: Jornal do Brasil, 02/05/2005, Economia & Negócios, p. A19

Seminário do ex-ministro Reis Velloso entra na 17ª edição como laboratório de soluções para o Brasil

Não convidem o ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso para qualquer mesa. Pelo menos até o dia 12, quando se encerra a 17ª edição do Fórum Nacional. É a este marco anual da análise da conjuntura brasileira - obrigatório para quem decide os destinos do país - que ele dedica cada minuto. No escritório no Centro do Rio, espartano, Reis Velloso faz um desnecessário pedido de desculpas pela momentânea desorganização. Os livros, das mais diversas procedências, quase saltam das prateleiras. Por uso. Em cada um deles - e são centenas - pequenos papéis marcam páginas nas quais há citações, gráficos ou trechos que o ex-ministro já usou, usa ou usará. A prodigiosa memória permite que localize o que procura em segundos. Com a característica voz pausada, conta orientar o diminuto número de funcionários a cada fórum: os temas e os painéis têm de ser relevantes. Assim é há 17 anos e não será diferente em 2005, quando os desafios e os exemplos que provêm da China e da Índia dominarão o debate, como antecipou o Informe Econômico, ontem.

- A China vem crescendo em ritmo acelerado, na casa dos 9,5% anuais, há duas décadas. Na Índia, o avanço é mais recente, de dez anos para cá. Ambos mostram saltos de competitividade e, dado o tamanho de suas economias, têm hoje capacidade de sacolejar o mundo com seus movimentos - afirma Reis Velloso, que preside o Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae) e coordena o Fórum desde sua criação, ao lado de economistas do peso de Antônio Barros de Castro e Cláudio Frischtak.

O foco, porém, não está nestes países, mas na capacidade do Brasil de reagir ao redesenho da economia mundial e ganhar competitividade. Os painéis, portanto, enfocarão os entraves à política industrial, implementada pelo governo Lula, e os desafios à política de inovação tecnológica, ainda em fase de discussão; a modernização da infra-estrutura nacional, com participação do setor privado; a segunda revolução do agronegócio; o desenvolvimento regional (com ênfase no Nordeste e na Amazônia); o desenho de um plano para evolução da Economia do Conhecimento; e a reforma política.

Para a maratona de debates, que começa no dia 9, são esperados nada menos que dez ministros, além do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, dirigentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES, anfitrião do Fórum), representantes do Banco Mundial, economistas e políticos. Tudo para romper com o estigma de ''Brasil, país do futuro'', como o escritor judeu Stephen Zweig, radicado aqui às vésperas da Segunda Guerra Mundial, vaticinava em 1941. Para Reis Velloso, é preciso construir o futuro agora, sob pena de se perder a disputada corrida da globalização.

- Curioso é que Zweig apontava duas características fundamentais do país, que ele acreditava serem determinantes para sua afirmação futura como potência: a inexistência de intolerância religiosa e étnica, assim como também a alta qualidade de seus recursos naturais e humanos.