Título: Movimento poupa Lula e critica FH
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 03/05/2005, País, p. A3

O rosto do guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara está em centenas de bandeiras da Marcha Nacional pela Reforma Agrária. Ao mesmo tempo em que preservam a figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os coordenadores nacionais do MST pregam uma ''ruptura'' na política econômica do governo. O MST vai entregar a Lula um documento em que pede para o país a mesma taxa de juros praticada nos Estados Unidos. - O MST tem consciência de que a vontade política do Lula é a favor da reforma agrária. Mas a política econômica é blindada pelo interesse do capital. É necessário construir o processo de ruptura - diz um dos coordenadores nacionais do MST Roberto Baggio.

A avaliação interna do MST é que Lula conseguiu chegar ao governo, mas não detém o poder para as mudanças necessárias na política econômica. O MST quer ser um ''aliado'' do presidente para romper com a política econômica, num momento em que o próprio Lula anuncia ter relação de ''unha e carne'' com o ministro da Fazenda, Antonio Palloci. Para Baggio, o presidente não consegue mudar a estrutura agrícola - montada, segundo ele, sobre um modelo de exportação e na exploração desumana do trabalho - e dar prioridade à agricultura familiar.

- A reforma agrária está paralisada. É necessário um processo massivo de desapropriação dos grandes latifúndios. A reforma agrária depende do povo, da pressão - reitera Baggio.

A política econômica não é o único alvo do MST. O movimento também critica o Judiciário. Ontem, durante os discursos nos dois caminhões de som da Marcha Nacional, vários manifestantes criticaram a Justiça pela inexistência de punição aos fazendeiros que matam sem-terra, e por emperrar processos de desapropriações de propriedades.

- O Judiciário é um aparelho do Estado, que protege a oligarquia rural. Os juízes dão reintegração de posse sem análise - critica Baggio.

O MST enumera várias diferenças entre os governos de FH e Lula. Em geral, sobram ataques para o tucano, mas com o presidente petista os sem-terra são mais condescendentes. Para o MST, o governo FH criminalizou os movimentos sociais e criou uma ''blindagem'' jurídica para impedir a reforma agrária.

Antes do fim da tarde, os participantes montaram acampamento às margens da BR-060. Invadiram uma fazenda de 250 hectares, onde instalaram banheiros químicos e fincaram barracas. Um dos proprietários da fazenda, Renato Costa, foi surpreendido pela chegada da manifestação.

- Entendo a causa deles, mas acho que tudo isso poderia ter sido acertado antes - protestou o fazendeiro, que cria gado de corte na área ocupada.

Segundo Roberto Baggio, ''o local foi escolhido por possuir as condições ideais para o acampamento''.

- Amanhã (hoje), cedo, às 5h, partimos - justificou

A caminha de hoje terá aproximadamente de 19 km. (H.M.)