Título: PMDB faz exigências para apoiar Lula em 2006
Autor: Daniel Pereira e Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 04/05/2005, País, p. A2

Partido quer mais cargos e liberação das emendas para obras em redutos eleitorais

O Palácio do Planalto terá de correr contra o tempo caso queira convencer o PMDB a formalizar apoio à campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre os líderes da ala do partido que apóia o governo, está consolidada análise segundo a qual o PMDB tenderá a apresentar candidatura presidencial própria em 2006 se pelo menos três de suas principais demandas não forem atendidas. Duas delas são a liberação de emendas parlamentares e o fim da verticalização das coligações. Em relação ao dinheiro de deputados e senadores que contemplam obras nas bases eleitorais, a reclamação é geral dentro do Congresso. Os peemedebistas cobram uma fatura alta, pois têm 87 assentos na Câmara e 23 no Senado.

A terceira exigência do PMDB é receber uma fatia maior de cargos na administração pública, reivindicada como demonstração de ''parceria'' e ''prestígio''. As pendências têm de ser resolvidas o mais rápido possível, declaram os peemedebistas afinados com o Planalto. Eles não definem um prazo, mas reclamam da demora do Executivo para tomar decisões, o que daria fôlego aos planos da ala oposicionista do partido.

- Dificilmente, não teremos um embate dentro do partido em breve - diz um parlamentar de peso do PMDB.

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) analisa uma proposta de emenda constitucional que acaba com a obrigatoriedade de os partidos seguirem nas unidades da federação as coligações fechadas para a eleição presidencial. A regra foi instituída pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ratificada depois pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O presidente do PT, José Genoino, já se manifestou de forma contrária à proposta, contestada pela legenda na Justiça nos tempos de oposição. Já o PMDB quer derrubá-la, pois é adversário direto do PT em diferentes estados da federação. No Rio Grande do Sul, por exemplo, uma composição entre os partidos é inviável. Ninguém aceitará abrir mão da candidatura para beneficiar o aliado. O mesmo acontece no Distrito Federal.

- Com verticalização, não tem marcha, não tem aliança - afirma um dos líderes peemedebistas.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), costuma repetir que a verticalização só pode ser implantada depois de concluída a reforma política. Seria o desfecho ideal da reformulação nas regras partidárias e eleitorais. Enquanto a reforma não anda, não faz sentido cobrar coerência dos partidos, argumenta Renan.

O outro nó a ser desatado pelo Palácio do Planalto é um velho conhecido. O PMDB reclama de supostamente ocupar menos espaço, proporcionalmente, na administração pública do que outros partidos integrantes da base de apoio ao governo, como PP e PTB, apesar de ter mais parlamentares. Insiste na nomeação da senadora Roseana Sarney (PFL-MA) para um ministério, conforme compromisso assumido durante as negociações da reforma ministerial.

Segundo um de seus líderes, é preciso honrar palavra empenhada com o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), que não estaria satisfeito com o chá-de-cadeira dado na filha. Também é considerada ''questão de honra'' uma compensação por ''constrangimentos'' impostos a parlamentares peemedebistas. O Palácio do Planalto teria oferecido, por exemplo, cargos de direção em estatais a deputados e senadores do partido, mas entregou a mercadoria a outras legendas.

Entre os políticos prejudicados figurariam os senadores Gilberto Mestrinho (AM) e Valmir Amaral (DF), que viram suas indicações para a diretoria da Infraero naufragarem.