Título: Câmara decide sorte de André Luiz
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 04/05/2005, País, p. A3

Deputados favoráveis à cassação temem que processo arquivado contra o presidente do PP, Pedro Corrêa, influencie votação

O plenário da Câmara decide hoje, em votação secreta, se André Luiz Lopes da Silva (sem partido-RJ) permanece como deputado ou se perde o mandato por quebra de decoro parlamentar. Ele é acusado de cobrar R$ 4 milhões do bicheiro Carlinhos Cachoeira, em troca de proteção ao contraventor. Apesar de uma fita conter a gravação das negociações, um parecer do Conselho de Ética recomendar a cassação e todos os recursos apresentados pelo parlamentar junto ao Supremo Tribunal Federal terem sido rejeitados, não há garantia de que André Luiz será de fato cassado pela maioria dos deputados em plenário. - Se ele for cassado, é um procedimento natural. Mas se for absolvido, estaremos legitimando a extorsão na Casa - indignou-se o relator da matéria, Gustavo Fruet (PSDB-PR).

André Luiz se diz tranqüilo. Vai participar pela manhã de nova sessão de descarrego promovida pela bancada evangélica. Parentes do deputado circularam nos últimos dias pela Câmara, reforçando o apelo sentimental quanto à inocência. Um silêncio constrangedor permeia os corredores da Casa. Alguns deputados disfarçam, afirmando que não têm conhecimento do teor do relatório. Outros admitem que há um temor quanto a possíveis reações violentas do deputado.

- O que pensam? Que vou matar 512 deputados? Não precisam ter medo, não sou marginal. Nunca fiz nada de mal a ninguém - garantiu André Luiz.

Fruet reconhece que existe um risco claro de a Casa absolver André Luiz, apesar de todas as evidências que pesam contra ele. Somam-se nesse caldeirão elementos como sentimentalismo, corporativismo, resistência a pressões externas ou medo de que o parlamentar fluminense seja portador de informações que possam prejudicar outros parlamentares.

- O procedimento foi todo jurídico, correto. Mas o voto é político. Ele pediu dinheiro para influenciar uma CPI, isso é quebra de decoro, pena de cassação - declarou o relator.

Para que não haja surpresas, ou alegações posteriores de ''perseguição por panelinhas'', Fruet considera que a matéria precisa ser examinada por um quórum elevado, acima de 450 deputados. André Luiz disfarça e afirma que a única certeza que tem é a de contar com o próprio voto na sessão. Acredita, contudo, nos efeitos positivos da distribuição de e-mails e telefonemas para os colegas.

- Todos conhecem o processo. Eu sou réu, não tenho muito o que acrescentar. Mas todos sabem que as investigações foram bem atrapalhadas - criticou.

O clima da sessão de votação promete esquentar. Fruet pensa em citar o segundo mandamento recebido por Moisés no Monte Sinai, que diz: ''Não pronunciarei o nome do Senhor Vosso Deus em vão'' em vez de ler o relatório completo. É uma resposta aos evangélicos que prometem repetir o ritual de benzer André Luiz.

- Esses não são evangélicos de verdade. São biscaterianos.

O deputado paranaense afirma que as provas contra André Luiz são evidentes e cristalinas. Não houve edição na fita, não há interrupções na gravação.

Na véspera da votação da cassação de André Luiz, uma decisão da Mesa Diretora acendeu a luz amarela na Câmara. Por unanimidade, os seis integrantes da Mesa decidiram arquivar um processo contra o deputado Pedro Corrêa (PE), presidente do PP e suspeito de participar de um esquema de tráfico de influência, incluindo contrabando e adulteração de combustíveis.

O relatório da Comissão de Sindicância, concluído em dezembro do ano passado, pediu a absolvição do parlamentar, por falta de provas. A Mesa bateu ontem o martelo, deixando alguns deputados preocupados.

- O relatório era pela absolvição, está correto. Mas votar isto hoje (ontem) pode contaminar o processo de André Luiz - lamentou o deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), autor do parecer inocentando Corrêa.

Capixaba e outros integrantes da Mesa acham que a defesa de André Luiz poderá usar como precedente o julgamento de Corrêa para pedir a absolvição do deputado fluminense. Corrêa considerou que, no seu caso, a justiça foi feita. E não vê qualquer possibilidade de comparação entre as duas situações.

- O relatório do André Luiz pede a cassação. O meu pedia o arquivamento. Não tem como misturar os dois - comparou.