Título: A falta de um fórum
Autor: Rodrigo Valle da Fonseca e Juan Cláudio Epsteyn
Fonte: Jornal do Brasil, 04/05/2005, Internacional, p. A7

Não é novidade que a relação bilateral entre Brasil e Argentina esteja atravessando um momento delicado. De fato, existem problemas pontuais entre os dois países. A falta de articulação nas políticas de reforma das Nações Unidas, a questão das assimetrias comerciais, a falta de coordenação de políticas macroeconômicas têm demonstrado o quanto ainda resta por fazer para transformar o Mercosul em um bloco consolidado. Entre os problemas, o mais premente é a falta de mecanismos institucionais que permitam moderar as retóricas e os discursos políticos vazios e, ao mesmo tempo, ajudem a tornar mais maduro o funcionamento do Mercosul. Essa falta de instituições termina por criar uma situação onde os problemas são superdimensionados. Essa situação abre caminho para que os políticos e burocratas manipulem essas questões tão delicadas, com fins específicos de política interna, desvinculados da dinâmica do processo de integração regional.

Não obstante as dificuldades, a integração regional vem fazendo progressos nos últimos 15 anos em termos de aumento dos vínculos comerciais, que, segundo a Câmara de Comércio Argentino-Brasileiro, em 2005 devem chegar a US$ 50 bilhões, dobrando o nível alcançado em 1994.

Os avanços incluem ainda o aprofundamento da ¿aliança estratégica¿ e a anulação das hipóteses de conflito. Vale lembrar que há duas décadas o conflito armado era uma possibilidade real. A criação do Tribunal Arbitral do Mercosul, em 2004, representa um passo adiante no processo de institucionalização do bloco. Ademais, a aproximação entre os dois países foi fundamental para um aprofundamento das relações sul-americanas como um todo. O maior exemplo foi a realização da primeira conferência de chefes de Estados sul-americanos, em 2000, e a posterior criação da Comunidade Sul-Americana de Nações, em 2004.

Apesar da ausência do presidente Néstor Kirchner na cúpula que deu origem à nova comunidade, a Argentina aderiu ao organismo recém-criado. A ausência foi motivada, em grande parte, por questões internas.

Os fatos chamam a atenção para a necessidade da criação de instâncias diplomáticas e institucionais que permitam lidar de forma ampla, coordenada e séria com os problemas.