Título: Além do Fato: Resultados internos serão o fiel da balança
Autor: Robin Oakley
Fonte: Jornal do Brasil, 01/05/2005, Internacional, p. A9

Tony Blair colocou o Partido Trabalhista de volta ao poder após 18 anos, com uma vitória bastante ampla em 1997. O partido novamente venceu em 2001. Mas pode ele alcançar a ambição de se tornar o primeiro líder trabalhista a vencer três eleições seguidas? Os adversários Michael Howard, do Partido Conservador, e Charles Kennedy, do Liberal Democrata, esperam poder frustrar os desejos de Blair. Acreditam que o fracasso no que diz respeito às armas de destruição em massa ¿ utilizadas pelo atual primeiro-ministro britânico como motivo para levar à frente a guerra no Iraque ¿ e a subseqüente perda de confiança no premier, demonstrada nas pesquisas de opinião pública, tornaram Blair vulnerável.

Analistas como Peter Keller, diretor do Centro de Pesquisa Yougov, confirma a ameaça a Blair: ¿Porque as pessoas não acreditam hoje no que ele disse no passado sobre o Iraque, estão crescentemente mais dispostas a não crer nele no que diz sobre economia ou o serviço de saúde, sobre as escolas ou o transporte público ¿ todos assuntos domésticos que normalmente dominam as eleições¿.

Há ainda o fator desgaste. Primeiro-ministros na Grã-Bretanha não têm de renunciar depois de dois mandatos. No entanto, se tornam progressivamente mais fracos com o tempo. Philip Stephens, colunista do Financial Times e autor de uma biografia de Tony Blair, afirma que ¿qualquer primeiro-ministro que tem estado no poder por oito anos perdeu a possibilidade de dizer: `olha, só preciso de um pouco mais de tempo¿. Blair é hoje julgado pelos seus resultados, que não são ruins mas também não são tão bons. No que se trata de política doméstica, o argumento do `preciso mais tempo¿ não funciona mais¿.

De qualquer forma, os partidos de oposição ainda têm muito trabalho pela frente. Na Câmara dos Comuns, eleita há quatro anos, os trabalhistas de Tony Blair asseguraram 412 cadeiras. Os conservadores levaram 166, os liberais democratas 52 e 29 ficaram com partidos menores. A maioria trabalhista chegou a 166 cadeiras, mais ou menos a mesma vantagem conseguida no pleito de 1997.

Nas eleições de 2001, o partido de Blair venceu com 41% dos votos. Os conservadores obtiveram 32% e os liberais democratas 18%. No entanto, a posição dos conservadores foi pior do que parece. Como a Grã-Bretanha não tem um sistema proporcional de representação mas funciona pelo ¿quem tem mais voto leva¿ o distrito eleitoral, houve um tempo que isso favorecia os conservadores mas hoje ajuda, e muito, os trabalhistas.

No último pleito, eram precisos, em média, 92.554 votos para eleger um representante liberal democrata, 50.347 para eleger um conservador e apenas 26.031 para colocar um trabalhista no Parlamento. Graças ao sistema, hoje, se os principais partidos britânicos obtiverem 35 ou 36% dos votos cada um, na contagem nacional, os trabalhistas terão o governo e uma maioria de 100 cadeiras no Legislativo.

Para chegar ao poder, os conservadores (os Tories, como são conhecidos), teriam que ter vantagem de 10 pontos percentuais na votação nacional, margem que não tem sido percebida por nenhuma pesquisa pelo menos na última década.

Michael Howard é o quarto líder conservador a enfrentar Blair desde 1997. Tem se mostrado um adversário eficiente, durante os embates semanais na Câmara dos Comuns. Howard restaurou a auto-estima dos conservadores e injetou um novo profissionalismo no partido. No entanto, sofre pelo fato de ter sido membro dos governos de Margaret Thatcher e de John Major nos anos mais impopulares de ambos. Os trabalhistas insistem que Howard seria um retrocesso.

No que tem sido uma campanha voltada para as acusações pessoais, os conservadores estão contando com o fato de que o primeiro-ministro tem sido representado como alguém ¿que fala muito mas faz pouco¿. Dizem que os eleitores não podem confiar em alguém que levou a cabo a guerra no Iraque em bases falsas. Também insistem que os crescentes gastos do governo em saúde e educação têm sido mal-utilizados, sem trazer os resultados esperados.

Apesar de não haver muitas provas de que os conservadores têm obtido apoio, o partido tem dominado a mídia nas últimas semanas com uma série de ataques de guerrilha contra as políticas do governo com relação à imigração e ao asilo, bem como na forma como Londres tem lidado com os ¿viajantes¿ ciganos. Eles têm usado histórias de casos pessoais de gente que teve problemas com os serviços públicos e têm forçado o governo a conter as promessas de aumento dos recursos alocados nas pensões.

Mesmo assim, o bom momento conservador foi perdido em parte quando Michael Howard baniu um representante no Parlamento do partido que havia dito que a proposta dos Tories de 35 bilhões de libras em cortes ¿era só o começo¿. Isso foi parar nas mãos dos trabalhistas que passaram a insistir que Howard tem uma ¿agenda oculta¿ de cortes de gastos públicos, o que enfraqueceria os serviçõs prestados pelo Estado.

Liberais democratas, que começaram estas eleições com mais representantes no Parlamento do que em qualquer momento da história do partido, desde 1929, estão esperando fazer desta vez uma real competição a três. Eles estão desafiando os trabalhistas nas bases do Norte e têm criado problemas para os conservadores no Sul e no Oeste do país. Esperam receber muitos dos tradicionais eleitores do Partido Trabalhista, desiludidos pela guinada à direita da agremiação e pelo apoio à guerra no Iraque.

Está sendo esperada uma baixa participação, como foi em 2001 (não ultrapassou os 59%). Todos os partidos estarão procurando seus eleitores tradicionais. Em particular, vão concentrar esforços nos cidadãos mais velhos. Pesquisas dizem que 73% dos aposentados vão votar enquanto apenas 34% daqueles abaixo de 35 anos participarão do pleito.