Título: O fardo da insensatez
Autor: Antonio Sepulveda
Fonte: Jornal do Brasil, 04/05/2005, Outras Opiniões, p. A13

A única entrevista coletiva de Lula da Silva em mais de três anos de governo mostrou, mais uma vez, ser ele incapaz de definir questões complexas que acabam reduzidas ao patamar rasteiro de sua escolaridade medíocre. Não deve ser fácil assessorar nosso atual presidente e prepará-lo para um bombardeio de perguntas muitas vezes capciosas. Por outro lado, devemos também tentar compreender a imensa dificuldade de um apedeuta incurável que procura, em vão, fazer pose de estadista para, invariavelmente, mergulhar no constrangimento de sua manifesta insuficiência intelectual para uma presidência que jamais conseguirá exercer em plenitude. Todas as vezes que Lula da Silva abre a boca para falar de improviso, presenciamos, além das costumeiras agressões ao vernáculo, um festival de clichês, sofismas, falácias, imposturas e, não raro, parvoíces que raiam pelo ridículo.

Simploriamente sentencioso pelo tom convencional e vazio de sentido e pela aparatosa gravidade das maneiras, apesar da tosca incorreção de linguagem, nosso supremo mandatário lembra muito o Conselheiro Acácio, aquele célebre personagem eciano do romance ''O Primo Basílio''. Lula da Silva, sem dúvida, entrará para a História como o mais acaciano dos presidentes brasileiros. Viverá para sempre nas piadas e anedotas; o cancioneiro popular há de repetir, aumentar e até inventar, eternamente, o longo repertório de suas sandices monumentais. Volumes serão escritos sobre incontáveis tropeços de forma e conteúdo. Este, ao que parece, em termos pessoais, será o único legado desse cavaleiro da triste figura que se apeou no Planalto, graças ao impulso irrefletido de um povo desesperado que se dispusera a tentar qualquer loucura para sair do atoleiro e hoje se sente esmagado sob o peso da própria insensatez.

Outro dia, confirmando a má fama de anti-herói da tribuna, Lula da Silva, ébrio de si mesmo, em cadeia nacional, ao vivo e em cores, naquele linguajar típico de cervejeiro de opereta, impostou o timbre garanhunense para afirmar, categórico, que os juros estão altos, porque os brasileiros somos comodistas, e a preguiça, fruto de nossa inconsciência, impede que levantemos o traseiro para trocar de banco a cada aumento dos juros. O presidente acredita piamente que esteja salvando o Brasil, uma nação que diz ser capitalista, mas cujo capital, segundo ele, estaria fluindo para as mãos sôfregas do povão. Lula da Silva, em seu despreparo, não percebe que nosso país, nas mãos de socialistas impossibilitados de partir - pelo menos, por enquanto - para uma ditadura bolchevique, padece da forma mais cruel de capitalismo: o capitalismo de Estado; ou seja, a economia, aparentemente livre, encontra-se submetida ao controle excessivo de um governo intrometido e centralizador, cujos obreiros ensandecidos só pensam em unificar, planificar e regulamentar. Capitalismo não é isto. Na economia de mercado, em essência, as decisões relativas a produção, preços, salários, etc., são tomadas predominantemente pela interação de compradores e vendedores, com pouca ou nenhuma interferência governamental. Nada a ver com esta mixórdia petista que estagnou o desenvolvimento nacional.

Talvez estejamos, sim, acomodados ante um governo que nos massacra com dezenas de impostos e nada de bom nos dá em troca, rigorosamente nada. Quem sabe então o motivo de o brasileiro manter o traseiro preso à cadeira não seja mero comodismo, mas um ato de legítima defesa? De qualquer forma, a paciência e a inteligência do povo estão em xeque. Nas eleições de 2006, haveremos de sair da comodidade e arrastar até às urnas os nossos traseiros preguiçosos... e vingativos.