Título: Petrobras busca espaço nos EUA
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 04/05/2005, Economia & Negócios, p. A21

Acordo com PDVSA pode abrir portas para estatal brasileira operar postos de gasolina e refinaria no país

Turbinada pelos altos preços do petróleo no mercado internacional, a Petroleos de Venezuela S.A (PDVSA) quer fincar sua bandeira definitivamente no Brasil. Para isso, está disposta até mesmo a ceder para a Petrobras 10% de sua rede de 17 mil postos de gasolina nos Estados Unidos - o maior mercado consumidor de combustíveis do mundo - em troca de condições vantajosas no acordo que negocia com a estatal brasileira desde março.

Dos 18 memorandos de entendimento discutidos com a Petrobras, o principal deles, que prevê a construção de uma refinaria na Região Nordeste, representa para a estatal venezuelana muito mais do que um tento no processo de integração latino-americana. Constitui o pontapé inicial de uma estratégia de inserção no mercado brasileiro que poderá significar, na prática, o primeiro movimento de uma empresa estrangeira com potencial para abalar a hegemonia de mais de meio século da Petrobras no país.

Uma fonte com trânsito na petroleira venezuelana, que pediu para não ser identificada, revelou que, se a PDVSA conseguir da Petrobras um compromisso para refinar somente petróleo venezuelano na nova refinaria do Nordeste, poderá garantir para a estatal brasileira, em troca, não só 1,7 mil postos da rede Citgo - bandeira da PDVSA nos EUA -, mas também uma participação na refinaria americana Lyondell, na qual detém 51,5%.

A empresa também poderá ceder para a brasileira participações em duas refinarias no Caribe, em Aruba e Curaçao. Dos 1,7 mil postos, revelou a fonte, cerca de 800 localizam-se no Texas. Tanto as refinarias quanto os postos contribuiriam para consolidar a estratégia de inserção da Petrobras no mercado americano, um dos sonhos da diretoria internacional da empresa.

Atualmente, a Petrobras não só produz cerca de 6,5 mil barris por dia no lado americano do Golfo do México, como também exporta 250 mil barris de petróleo pesado, do tipo Marlim, para aquele mercado. As refinarias, adaptadas à tecnologia do óleo pesado da PDVSA, e a rede de postos permitiriam à estatal brasileira agregar valor ao petróleo que produz e exporta para os EUA. O orçamento da subsidiária americana da Petrobras, só para se ter idéia de sua importância, aumentou de US$ 45 milhões para US$ 135 milhões de um ano para cá.

Questionado sobre as negociações com a PDVSA para obter a rede de postos de gasolina, o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, se negou a dar detalhes. Resumiu seu comentário a um curto ''estamos estudando''. Sobre a refinaria da Lyondell, afirmou que nada está definido e que esta representa apenas uma das opções. Ele justificou que, diante de uma diferença de até US$ 12 entre os petróleos WTI e Marlim, a empresa mantém interesse em adquirir ou arrendar refinarias no exterior.