Título: Ameaça em plenário
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 05/05/2005, País, p. A3

André Luiz é o décimo oitavo deputado cassado desde 1987. Próximo do término da apuração, uma loira não identificada dirigiu-se ao deputado Chico Alencar (PT-RJ) e, em tom de ironia, deu os parabéns ao petista, afirmando ¿Você conseguiu.¿ Em seguida, um homem identificado como César Coite, que disse ser assistente do advogado de defesa de André Luiz, Michel Saliba, desceu da tribuna e falou no ouvido do petista: ¿ Você vai ser o próximo.

Saliba nega que Coite seja seu assistente. Segundo ele, o homem seria um amigo de André Luiz. Parlamentares de diversos partidos cobraram uma ação enérgica de Severino. Enquanto a loira aproveitou a confusão para desaparecer, Coite permaneceu em plenário e foi levado para o departamento de Polícia Legislativa da Câmara.

Lá, a polícia da Casa tomou depoimento de Chico Alencar e de Coite. Segundo o deputado, Coite, se identificou como advogado e seria levado para a Polícia Federal por ameaça em flagrante.

¿ Qualquer um entra no plenário, com a sessão ainda transcorrendo e faz o que quer. Não pode ¿ protestou Alencar.

O ex-deputado André Luiz sempre foi ligado a contravenção carioca. Foi segurança do bicheiro Castor de Andrade, que morreu em abril de 1987, presidente do Bangu Atlético Clube e da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel. As duas entidades controladas pelo bicheiro.

André Luiz também foi casado com a deputada estadual Eliana Ribeiro (PMDB), sobrinha de Castor. Se elegeu vereador em 1989 (PTR) e em 1997 foi deputado estadual (PMDB), reelegendo-se em 1999. Em 2002 chegou à Câmara dos Deputados. Com 46 anos, André Luiz é advogado e técnico legislativo da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Além das acusações de extorsão que deram origem à cassação, André Luiz foi acusado no ano passado de estar envolvido no assassinato de oito pessoas. Numa fita o deputado narraria sua participação em tiroteios, perseguições e emboscadas a assessores do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Chico Alencar prefere acreditar que as ameaças foram de que ele ¿seria o próximo¿ a ser cassado, mas não descarta que a ameaça possa ser de morte:

¿ Há uma conjuntura que permite essa interpretação. Não sinto propriamente medo, mas não é muito agradável. De qualquer forma, o seguro morreu de velho, então, vou procurar minhas defesas dentro da lei ¿ explicou.