Título: 311 x 104: Nem oração ajuda a salvar André Luiz
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 05/05/2005, País, p. A3

André Luiz Lopes da Silva não é mais deputado federal desde as 21 horas de ontem. O plenário da Câmara cassou o mandato do ex-parlamentar por 311 votos a favor, 104 contrários, 33 abstenções e três votos brancos. Ele foi cassado por quebra de decoro parlamentar, acusado de pedir propina do bicheiro Carlinhos Cachoeira. André Luiz ficará inelegível por nove anos e seis meses ¿ oito anos mais o tempo que resta para terminar o atual mandato do deputado. Com isso, só pode voltar a se candidatar em 2015. Em seu lugar, assume o deputado Márcio Fortes (PSDB-RJ). O voto de número 257 que selou o destino de André Luiz foi dado às 20h46 minutos, uma hora depois do início da apuração. Os votos ainda estavam sendo lidos quando André Luiz deixou o plenário. Não foi para sua residência nem tampouco para o gabinete. A porta deste último estava trancada, mas oito assessores acompanhavam a votação pela televisão. A apuração também era acompanhada atentamente no gabinete do relator da matéria, Gustavo Fruet (PSDB-PR).

Muitos deputados reconheceram que a cassação foi uma chance de a Câmara redimir em parte sua imagem, prejudicada com acusações de nepotismo e tentativas de aumentar os privilégios. O último deputado cassado havia sido Hildelbrando Pascoal (AC), em setembro de 99, acusado de envolvimento com narcotráfico e venda de sentenças.

¿ Ou era ele ou éramos nós ¿ resumiu o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA) que trabalhou pessoalmente para garantir a cassação de André Luiz.

O deputado Chico Alencar (PT-RJ) que sofreu as ameaças de um amigo de André Luiz, afirmou que não sentia o menor prazer em votar a cassação.

¿ É uma dor que liberta. É triste porque ele chegou aqui apoiado no voto de 91 mil eleitores da zona oeste do Rio, a grande maioria, gente humilde ¿ recordou.

Durante a sua defesa na tribuna, André Luiz, que de manhã participou de um culto evangélico, voltou a afirmar que não teve chances de defesa durante o processo. Criticou a escolha do perito Ricardo Molina, lembrando que este foi contratado pela revista Veja para periciar a fita que originou o processo. Acrescentou que o voto era secreto, mas confiava nos pares.

¿ Espero que Deus seja o meu juiz, e que sua sentença seja a mais justa para todos os envolvidos ¿ resumiu.

O advogado de André Luiz, Michel Saliba, afirmou que o alto quorum ¿ 466 deputados assinaram presença e 458 votaram ¿ atrapalhou seu cliente. A expectativa era que o número chegasse a, no máximo, 370.

¿ Não havia como votar contra o relatório. Em poucos instantes nesta casa tivemos um processo tão cristalino ¿ elogiou o deputado Walter Pinheiro (PT-BA).

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) defendeu as investigações feitas pelo Conselho de Ética, lembrando que todos recursos apresentados por André Luiz foram aceitos. Negou que tenha havido cerceamento de defesa e cobrou uma postura firme do plenário.

¿ Se absolvermos André Luiz hoje (ontem), estaremos legitimando a extorsão ¿ declarou.