Título: Palocci faz mea-culpa após ouvir críticas do PSDB
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/05/2005, País, p. A4

Fernando Henrique lembra que nove ministros de Lula votaram contra lei fiscal há 5 anos

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, fez ontem uma autocrítica sobre o período em que o PT era contra a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) - que controla os gastos públicos e ontem completou cinco anos. A lei foi aprovada no governo de Fernando Henrique Cardoso. Na oposição, o PT votou contra. À época, Palocci era deputado.

- Faço essa referência porque quero fazer uma autocrítica. Nesse momento, a minha bancada, da qual fazia parte, falhou. Nós, naqueles idos de 2000, não demos apoio à lei. Foi uma falha da bancada e me incluo nessa falha - reconheceu durante a mesa redonda, promovida pelo Tesouro sobre o aniversário da LRF.

A declaração foi uma resposta às críticas do PSDB, no maior ato político-eleitoral do partido contra o governo Luiz Inácio Lula da Silva. No evento, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o país precisará ''de um caminho novo'' em 2006 e a economia não cresce mais devido a ''indecisões, incertezas e incompetência'' do PT.

Principal estrela do evento para comemorar os cinco anos da Lei de Responsabilidade Fiscal, FH se disse ''chocado'' ao ter sido lembrado de que nove ministros de Lula votaram contra a criação da legislação.

- Eu não gostaria de dizer isso porque gosto do Palocci.

FH afirmou que os tucanos podem, sabem e vão ''fazer mais'' do que os petistas, num tom eleitoral que permeou todo o seu discurso de improviso de 21 minutos. Disse que o Brasil e o mundo vivem momento ''saudável'' e ''é preciso não desperdiçá-lo''.

Em seguida, criticou os juros altos, dizendo que o Banco Central dá ao país ''susto em dia de céu azul''. Afirmou que subiu os juros em seu governo devido a crises externas, adversidades que Lula não viveu até agora. E disse que acertos petistas ocorreram porque ''tucanaram''.

O ex-presidente disse ainda que não desejava que aquele momento fosse o da ''hora da saudade'', mas do ''comichão do futuro'', procurando dar expectativa de poder aos políticos. Além dos tucanos, havia representantes do PFL, do PP, do PMDB e do PPS na platéia.

Ao dizer que os petistas não tinham ''autoridade moral'' para atacá-lo, FH se referiu especificamente a uma afirmação de terça-feira do presidente do PT, José Genoino. O petista disse que FH não fez ajuste fiscal no primeiro mandato, crítica que Palocci repetiu ontem. FH respondeu que priorizava o combate à inflação e organizava as contas para fazer a LRF.

Foi nesse contexto que falou dos atuais ministros que votaram contra a lei. Além de Palocci, votaram contra a LRF os seguintes integrantes do primeiro escalão de Lula: Marina Silva (Meio Ambiente), Agnelo Queiroz (Esportes), Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), Ricardo Berzoini (Trabalho), Aldo Rebelo (Coordenação Política), Waldir Pires (Controladoria), Nilmário Miranda (Direitos Humanos) e Jaques Wagner (Conselhão).

O tucano fez ironia quando disse que foi questionado se Lula já seria um neotucano.

- Não chego a esse ponto, mas alguma coisa ele aprendeu - esquivou-se.