Título: Golpe no contrabando
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 05/05/2005, País, p. A5
A Polícia Federal desmantelou ontem a maior organização criminosa já detectada em sua história no ramo da pirataria e do contrabando. A quadrilha movimentava R$ 360 milhões por ano, há pelo menos duas décadas. Dos 86 integrantes, 59 já haviam sido presos até o fim da tarde de ontem. A PF colocou 750 homens nas ruas para prender a organização nos Estados de Mato Grosso do Sul, Paraná, Mato Grosso e São Paulo. A Operação Hidra ¿ referência à serpente de múltiplas cabeças ¿ deve prosseguir hoje para prender todos os 86 procurados e apreender 422 veículos, onde se incluem carretas, carros luxuosos, reboques e outros, patrimônio avaliado pela PF em R$ 4 21,1 milhões.
A Operação Hidra contou com a a ajuda do Exército no Paraná, que forneceu logística e apoio para os homens da PF. A Receita Federal também participou da operação.
O grande cabeça da quadrilha é o empresário José Donizeth Balan, dono de transportadoras no Paraná e de mais de 50 carretas e caminhões, a maioria apreendidos ontem. Ele foi preso no Mato Grosso do Sul. Balan e seu irmão Laércio, que morreu no ano passado, foram investigados pela CPI da Pirataria. O nome de Balan surgiu durante as Operação Nicotina, da PF, em 2002, que prendeu fabricantes de cigarros falsos.
Durante as buscas e apreensões, a PF encontrou vários contratos de bens da família Balan que estariam em nome de terceiros. Em nome da mulher de Balan constam 48 reboques e um trator.
Balan tinha como bases de atuação os municípios de Eldorado e Mundo Novo, no Mato Grosso do Sul. Segundo policiais que acompanharam a investigação, o cabeça da quadrilha é irmão de Pedro Balan, ex-prefeito de Mundo Novo (MS), apontado na época como um dos envolvidos no assassinato da prefeita Dorcelina Folador (PT). A quadrilha trazia pelo menos 5 caminhões por dia de mercadorias ilegais do Paraguai.
A PF constatou que foram pagas propinas para 18 agentes públicos, a maioria presa ontem. A lista inclui um escrivão da Polícia Federal, 11 homens da Polícia Rodoviária Federal no Paraná, três no Mato Grosso do Sul e fiscais da Claspar, órgão do governo paranaense que cuidas da classificação de grãos. As propinas para liberação de cargas apreendidas chegavam a R$ 50 mil. A ousadia do grupo era tanta, segundo a PF, que há quatro anos cavaram um túnel para retirar mercadorias apreendidas pela Receita Federal em Maringá (PR), no depósito da instituição.
As mercadorias trazidas pela organização criminosa eram distribuídas nos Estados de São Paulo, Tocantins, Mato Grosso, Paraná, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Bahia, Pará, Rondônia e Minas Gerais. Não era bugiganga. O grupo era especializado principalmente em mercadorias caras, como TV de plasma, aparelhos de DVD e vídeo-cassetes. Também eram distribuídos remédios falsos, além de equipamentos de medicina e odontologia.
Um dos braços da organizaçãoa distribuía agrotóxicos importados de maneira ilegal do Paraguai. O cabeça do setor ligado ao agrotóxico, segundo a PF, é Jairo de Castro Alves, preso ontem em Campo Grande. Outro nome de peso é Éder Fabiche, preso em Umuarama (PR). Segundo a PF, dois outros coordenadores são Nivaldo Balan e Luiz Carlos Balan, presos ontem em São Paulo. Ambos irmãos de José Donizeth Balan.
Um outro nome importante do grupo dos Balan, segundo a PF, é o empresário Paulo César Camargo, que não foi preso. Ele tem lojas no Paraguai e estaria residindo em Ciudad del Este. Camargo é apontado como o principal fornecedor de mercadorias pirateadas e contrabando para a quadrilha.
O contador da quadrilha, segundo a PF, é Jaques Esthesne. Nas residências dos envolvidos, a PF apreendeu mais de US$ 50 mil, além de jóias e documentação que será analisada pela perícia.