Título: Sem BC, dólar cai para R$ 2,46
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/05/2005, Economia & Negócios, p. A21

Cotação da moeda americana é a mais baixa em três anos. Queda é puxada por saldo comercial recorde e capital de curto prazo

SÃO PAULO e BRASÍLIA - O chão é o limite para a queda do dólar, que ontem recuou pelo quarto dia consecutivo. A moeda americana recuou mais 1,08%, encerrando o dia vendida a R$ 2,466, menor patamar em três anos. Também houve forte queda do risco Brasil e valorização dos papéis da dívida externa. Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, teve um dia de alta, avançando 3,07% graças à recuperação das ações do setor de energia elétrica.

O dólar continua sob pressão devido ao fluxo comercial recorde e à taxa básica de juros (Selic) em alta, o que atrai capital especulativo. Outra notícia que ajudou a derrubar as cotações foi a venda de parte da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD - controladora do Pão de Açúcar) para o grupo francês Casino. Com a operação, a expectativa é de um ingresso de US$ 446 milhões no país, o que reforçaria o movimento de depreciação do dólar.

Para analistas, com o cenário atual não há como prever um piso para o dólar. A única alternativa, a volta dos leilões de compra do Banco Central, parece distante. A instituição está fora do mercado à vista desde 17 de março. O comunicado do Federal Reserve Board (Fed, o banco central americano) sinalizando continuidade da alta moderada nos juros nos Estados Unidos também ajuda a empurrar o câmbio para baixo.

Apesar da contínua queda na cotação do dólar, dados do Banco Central mostram uma redução no fluxo de capital estrangeiro no mês passado. Em abril, o ingresso líquido de recursos somou US$ 531 milhões, contra US$ 3,03 bilhões em março. Esse resultado, porém, não deve afetar a expectativa do mercado para a cotação do dólar no curto prazo.

Na avaliação de Miriam Tavares, diretora da corretora AGK, a queda no fluxo de capital ocorrida nas últimas semanas reflete uma diminuição nas aplicações de caráter um pouco mais especulativo, em que investidores colocam seu dinheiro no Brasil para ganhar com as altas taxas de juros. Para ela, os bons resultados da balança comercial é que puxam a cotação.

- Vamos ver até quando os exportadores vão agüentar.

A analista lembra ainda que outro fator decisivo para o futuro da taxa de câmbio será a atuação do BC. Entre novembro de 2004 e março de 2005, a autoridade monetária comprou mais de US$ 10 bilhões no mercado. Em março, porém, essas aquisições periódicas de dólares foram interrompidas. De lá para cá, a cotação da moeda dos EUA acentuou sua tendência de queda.

Embora o BC diga que só compra dólares com o objetivo de reforçar as reservas em moeda estrangeira do governo, muitas pessoas (desde empresários até integrantes do governo) defendem uma atuação mais forte para impedir uma valorização excessiva do real. Em tese, o real forte deixa os produtos brasileiros menos competitivos no exterior. Mesmo com o resultado um pouco menos expressivo de abril, o total de dólares recebidos pelo Brasil neste ano continua elevado: nos primeiros quatro meses, foram US$ 8,844 bilhões, 32% a mais do que no mesmo período do ano passado.

Na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), as projeções de juros embutidas nos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) recuaram. A divulgação do IPC-Fipe de abril, em linha com as expectativas do mercado, ajudou a derrubar as taxas de juros. O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) de janeiro de 2006, o mais líquido, indicou juro anual de 19,47%, ante 19,52% do ajuste anterior. O DI de junho, que concentra as apostas para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do próximo mês, sinalizou taxa estável, a 19,53% ao ano. O vencimento ainda mostra divisão do mercado quanto à Selic de maio, com uma previsão entre 0,25 ponto percentual de aumento e manutenção da taxa. No fechamento do mercado, o risco país, medido pelo JP Morgan, recuava 3,8% para 427 pontos.

Abril não foi um mês bom para a Bovespa. A saída de capital estrangeiro foi recorde. E o movimento teve peso importante no desempenho no mês: queda de 6,64%. As vendas de ações realizadas pelos investidores estrangeiros superaram as compras em R$ 1,907 bilhão, resultado que fez com que o saldo positivo acumulado no ano caísse para apenas R$ 853,7 milhões. Em março, o fluxo de capital estrangeiro para a Bovespa já havia ficado negativo em R$ 1,52 bilhão.