Título: Ex-deputado quer recorrer
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 06/05/2005, Brasil, p. A2

Um dia após ter seu mandato cassado pelo plenário da Câmara, o ex-deputado André Luiz (sem partido-RJ) ligou para seu advogado, Michel Saliba, antes do telefone do gabinete ser cortado. Não quis dizer onde estava, mas perguntou se existe a possibilidade de recorrer contra os 311 votos que selaram seu destino. Depois, submergiu.

O advogado estuda recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a votação. O argumento seria de que a sessão não poderia acontecer já que a pauta da Casa está trancada por oito medidas provisórias (MPs). A votação foi possível a partir de uma nova interpretação da Constituição que permitiu incluir o processo de André Luiz na ordem do dia, antes da votação das MPs.

Na residência de André Luiz, no Lago Sul, uma mulher com voz sonolenta confirmou que André Luiz não voltou para casa após a votação da Câmara. O deputado irritou-se com a recusa da Câmara de pagar as passagens aéreas para ele e a família, como pediu.

No gabinete, pilhas de papéis amontoado, outros rasgados e os cartões esparramados pelo chão davam o tom de terra arrasada. Pela manhã, funcionários recolheram documentos. À tarde, apenas servidores terceirizados limpavam o ambiente para o futuro inquilino.

- Hoje à tarde mesmo deve vir para cá o deputado Itamar Serpa (PSDB-RJ) - declarou uma servidora da Câmara.

Serpa foi o único deputado fluminense que não votou na sessão de cassação. Deixa um gabinete no anexo III para o que era de André Luiz: mais distante do plenário, mas com vista privilegiada para a Esplanada. O suplente de André, Márcio Fortes (PSDB-RJ), deve se alojar no anexo III.

O advogado do deputado cassado reconhece que a absolvição do deputado Pedro Corrêa (PP-PE) na véspera da votação da cassação de André Luiz pesou contra seu cliente.

- Resolveram uma situação e outras, algumas mais graves, ficarão esquecidas. Desviaram o foco - criticou.

Outro rescaldo da votação ainda não havia sido resolvido até o fim do dia de ontem. Após a conclusão da apuração, o deputado Chico Alencar (PT-RJ) foi ameaçado por um amigo de André Luiz, que se passou por advogado, chamado César Coité. Durante a manhã, Chico recebeu um telefonema de um homem, que se identificou como Oyama Freitas, assumindo a autoria do ''você será o próximo'' e desculpando-se. (P.T.L.)