Título: O inferno astral do Legislativo
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 06/05/2005, Brasil, p. A2

A Câmara vive dias nebulosos. Desde o segundo semestre do ano passado, a Casa passou a votar lentamente qualquer projeto ou medida provisória em plenário. Neste ano, uma série de decisões, tomadas especialmente pela Mesa Diretora, aprofundaram o abismo entre o Legislativo e a opinião pública: proposta de aumento de salário, reajustes de verbas de gabinete, denúncias de nepotismo e agora, os gastos com a reforma dos imóveis funcionais.

Pouco depois de assumir a presidência da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) propôs a equiparação salarial dos deputados com os ministros do Supremo Tribunal Federal. Com isso, os vencimentos dos deputados pulariam dos atuais R$ 12.820 para R$ 21,5 mil. Defendeu também o aumento da verba de gabinete de R$ 35 mil para R$ 50 mil. Correu uma lista coletando assinaturas para que a iniciativa fosse votada com urgência.

A pressão da opinião pública suspendeu o movimento. Severino chamou, então, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, para sua residência, em busca de uma saída: Jobim sugeriu que o aumento fosse dado por um ato conjunto das Mesas Diretoras, da Câmara e do Senado. O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL) pôs um fim na nova articulação.

Poucas semanas depois, no entanto, Severino conseguiu reajustar as verbas de gabinete, que correspondem a R$ 50 mil para cada parlamentar. O desgaste, contudo, ainda estava longe de terminar. Começaram a surgir denúncias de nepotismo no Congresso. (P.T.L.)