Título: Deputados querem melhorar a imagem da Câmara
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 06/05/2005, Brasil, p. A2

Deputados querem melhorar a imagem da Câmara

A péssima imagem do Legislativo perante a opinião pública - amenizada um pouco pela cassação do ex-deputado André Luiz (sem partido-RJ) - fez com que um grupo de parlamentares dissesse um basta ontem. Dez deputados, de diversos partidos, lançaram um movimento pela recuperação da credibilidade no Parlamento. Apresentaram duas propostas neste sentido: uma emenda constitucional suspendendo o voto secreto nos processos de cassação (outras iniciativas neste sentido tramitam pela Casa) e um projeto devolvendo ao plenário das comissões a prerrogativa de aprovar os cargos de confiança indicados pelos seus presidentes. As iniciativas, contudo, pretendem ir mais além. O grupo defende o fim do nepotismo; a diminuição do recesso parlamentar de 90 para 45 dias; a elaboração de uma pauta legislativa que atenda os interesses da sociedade; cobrar agilidade nas votações tanto do Conselho de Ética quanto nos processos parados na Corregedoria da Câmara e aprovar o projeto de reforma política.

- O desgaste do Parlamento brasileiro, como subproduto da descrença política, é imenso. Compreendemos a necessidade de recuperar a imagem do Legislativo - afirmou o deputado Chico Alencar (PT-RJ).

O movimento, contudo, afundou-se no marasmo que domina a cena parlamentar. Apenas dez deputados compareceram - nenhum é líder partidário. A sensação de vazio que permeia os corredores do Congresso é bem mais ampla do que uma simples quinta-feira sem votação: a Casa parece viver uma ausência de perspectivas.

- Tenho 14 anos de Câmara e nunca vivi um momento assim. É triste - resumiu o líder do PTB, José Múcio Monteiro (PTB-PE).

O gosto amargo de ter que cortar na própria carne não foi suficiente para dar uma sacudida nos ânimos da Casa. Um dos precursores do movimento para resgatar a imagem do Legislativo, deputado Raul Jungman (PPS-PE), reconhece que é preciso muito mais do que simplesmente lançar uma idéia no salão verde, diante dos holofotes da mídia.

- Não adianta decidirmos as coisas em petit comité. Queremos mudar, mas todos precisam se envolver. Temos que ser menos midiáticos e mais efetivos - admitiu Jungman.

Ex-líder do PPS na Câmara, Júlio Delgado (MG) confirmou, durante a apuração dos votos que cassaram André Luiz (sem partido-RJ) que, se o parlamentar fluminense escapasse da degola, seria preferível largar a política e retornar para a advocacia. José Múcio sintetizou o momento.

- Ontem (quarta), a sociedade queria a cabeça de alguém - admitiu.

A ameaça ainda permanece. André Luiz foi cassado, mas, na véspera, Pedro Corrêa (PP-PE) havia sido absolvido pela Mesa Diretora, o deputado Ronivon Santiago (PP-AC) continua no cargo apesar de ter sido cassado pelo Tribunal Regional de seu Estado e outros 21 processos tramitam na Corregedoria-Geral ou estão mofando na Mesa Diretora. Sem chances de andamento.

- André Luiz é culpado? É. Mas o fato de ele ser do baixo clero, sem ligações políticas fortes, pesou na cassação - reconheceu Jungman.