Título: Campanha até o 'último minuto'
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Fonte: Jornal do Brasil, 06/05/2005, Internacional, p. A8

O primeiro-ministro Tony Blair foi o primeiro a votar dos três principais candidatos que disputam as eleições no Reino Unido. Acompanhado da esposa, Cherie, e dos dois filhos mais velhos, Blair compareceu pouco depois das 9h30 ao colégio eleitoral de Sedgefield, feudo tradicional trabalhista em que conseguiu uma maioria de mais de 17 mil votos nas últimas eleições.

Acenando para os jornalistas presentes, Blair não fez nenhum comentário e partiu em seu automóvel poucos minutos depois de ter votado.

A principal preocupação do premier ontem era a de que muitos dos tradicionais eleitores trabalhistas, desapontados com o governo, em especial no que diz respeito à invasão ao Iraque, não tenham votado ou tenham escolhido o Partido Liberal Democrata, único dos três grandes que se opôs à guerra.

Por isso os trabalhistas fizeram até o último momento um esforço para convencer os eleitores ainda indecisos, que ontem beiravam os 36%, muito mais do que em eleições anteriores.

- A campanha foi muito agressiva e nem sequer conheço os candidatos de minha circunscrição, explicou Debbie Campbell, de 32 anos, funcionária de uma financeira.

O líder conservador, Michael Howard, acompanhado de sua esposa, Sandra, ligou para os candidatos de seu partido em lugares-chave para dar ânimo e dizer que tudo ia de ''vento em popa''.

Mesmo em dia de eleições, os tablóides não quiseram perder a chance de caricaturar o candidato do partido que combatem. O Daily Express publicou uma foto de Tony Blair com um nariz de Pinóquio em alusão a sua falta de credibilidade, denunciada várias vezes na campanha pela oposição conservadora.

Mais cruel, o Daily Mirror pediu a seus leitores que votassem nos trabalhistas com uma imagem na primeira página do líder conservador, Michael Howard, como Drácula em um caixão, com sangue nos lábios e uma estaca nas mãos, clara alusão à origem romena e judaica do político.

Howard, que fez uma campanha voltada para as questões pessoais que envolviam o primeiro-ministro, foi acusado de atiçar os preconceitos dos britânicos contra os imigrantes.

O mais satisfeito desta vez pode ser o líder do Partido Liberal Democrata, Charles Kennedy, não só pelo filho - o primeiro - que teve em plena campanha eleitoral, mas também porque as pesquisas prevêem o crescimento de seu partido.

Os liberais-democratas se opuseram desde o começo à guerra do Iraque e se transformaram nos maiores defensores das liberdades civis na Grã-Bretanha, frente às tentativas trabalhistas de cerceá-las para facilitar a luta antiterrorista, e têm se transformado no refúgio para a esquerda desapontada com Blair.

Com isso, os trabalhistas tentaram desacreditar o programa econômico de Charles Kennedy e convencer os eleitores de que um voto para o partido Liberal Democrata poderia ajudar os conservadores a voltar ao poder.

O poderoso ministro da Economia, Gordon Brown, que deseja suceder Blair durante o próximo mandato, explicou isso claramente em artigo publicado ontem pelo Daily Mirror.

Votando nos liberal-democratas, escreveu Brown, os desapontados com o trabalhismo não conseguirão um governo desse partido, mas podem levar Michael Howard a Downing Street (residência do primeiro-ministro).

Mesmo com as pesquisas apontando mais uma vitória do Partido Trabalhista, a agremiação do primeiro-ministro não preparou nenhuma festa para comemorar o sucesso no pleito, porque os resultados ''anunciavam-se muito apertados'' e os militantes fizeram campanha ''até o último instante'', informou um porta-voz do partido.

- Este ano não faremos uma festa como em ocasiões anteriores. Achamos que os resultados serão mais apertados. Além disso, tivemos muitos militantes e autoridades trabalhistas em outras regiões, tentando incentivar os cidadãos a irem votar - explicou o porta-voz.

A participação no pleito deve ficar próxima ou menor do que o índice de 59% registrado no pleito de 2001. Foi constatado apenas que na Irlanda do Norte, cuja autonomia está suspensa há mais de dois anos, houve uma alta da participação, segundo representantes de vários partidos políticos.

Do total de 44,18 milhões de eleitores, 6 milhões preferiram votar pelo correio. As eleições foram realizadas em um dia típico de primavera, o que pôde favorecer a ida às urnas.

Os 59,3% de participação registrados nas últimas eleições gerais representaram o menor nível em mais de meio século na Grã-Bretanha, muito abaixo dos 82% de 1950, por exemplo.