Título: Schröder e Putin se emocionam
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 06/05/2005, Internacional, p. A14

O presidente russo, Vladimir Putin, contou ter se emocionado ao saber que o pai do chanceler alemão, Gerhard Schröder, foi morto pelas forças soviéticas na Segunda Guerra Mundial, e lembrou que sua mãe quase morreu durante o cerco nazista a Leningrado, hoje São Petersburgo.

Em entrevista conjunta com Schröder, publicada na edição de hoje do jornal Bild, Putin disse que as experiências de guerra deram sabedoria aos russos e alemães, ensinando-os a dar mais valor à vida, à liberdade e à importância de manter boas relações com os vizinhos.

O chanceler alemão vai a Moscou na semana que vem para participar das cerimônias que marcam o 60º aniversário do fim da guerra. Mais de 21 milhões de soviéticos e 7 milhões de alemães morreram no conflito, iniciada por Hitler em 1939.

- A geração de meus pais e avós nunca imaginaria isso - disse Schröder, sobre a amizade entre Berlim e Moscou. - Considerando os horrores da guerra, a reconciliação é um milagre político.

- Pode parecer estranho, mas nunca houve ódio pelos alemães em minha família. Meus pais diziam que os soldados não eram os culpados, e sim o regime que os enviou à guerra - disse o presidente russo.

O cerco nazista a Leningrado, que durou quase três anos, causou a morte de seu irmão e seu pai foi ferido em combate. Já sua mãe, exausta, com fome e com frio durante o bloqueio da cidade, desmaiou e foi dada como morta. O pai, que estava no hospital, foi quem a salvou.

- Ela já tinha sido colocada junto a uma pilha de corpos e estava sendo levada para o cemitério. Mas meu pai viu que ela estava viva e a tirou de lá. Minha mãe só sobreviveu porque ele cedeu a ela seu leito no hospital.

Putin foi espião da KGB na Alemanha Ocidental e fala alemão fluentemente. Ele admite que a população civil alemã sofreu muito durante a Guerra, mas disse que não foi por culpa dos soviéticos.

Numa crítica também aos aliados, Putin disse que ''não eram lá muito humanos''.

- Até hoje não entendo por que Dresden foi destruída. Não havia razão militar.

Para Schröder, embora sua geração não tenha culpa da Guerra, todos os alemães carregarão para sempre certa responsabilidade por ela.

A amizade entre os dois foi fortalecida pela oposição à invasão ao Iraque.