Título: Aldo nega, mas pode sair
Autor: Sérgio Prado e Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 07/05/2005, País, p. A2

Voltou a ganhar força dentro do Palácio do Planalto o nome da senadora Roseana Sarney (PFL-MA) para ocupar a Coordenação Política do governo. Por meio de emissários, inclusive, a senadora já teria feito chegar aos ouvidos do presidente Lula: estaria disposta a assumir o cargo a qualquer momento. Os dois últimos revezes no Congresso, enfraqueceram ainda mais o ministro Aldo Rebelo, atual ocupante do cargo de articulador político do governo. Para alguns assessores diretos de Lula, a situação de Aldo é considerada insustentável. No Planalto especula-se que ele já teria colocado o cargo a disposição, em conversas reservadas na última semana, embora o ministro negue:

- Isso não passa de especulação. Tenho procurado fazer meu trabalho da melhor maneira possível - disse ontem.

Aproveitando mais um momento de fragilidade, os petistas retomaram a carga para derrubar Aldo. Foi debitada na conta dele a indicação pela Câmara do candidato do PFL e PSDB para o Conselho Nacional de Justiça. Alexandre de Moraes, que derrotou indicado do governo Sérgio Renault.

A outra queixa contra Aldo é a convocação do chefe da Casa Civil, José Dirceu, para explicar a abertura de capital da Infraero no Senado. Segundo um ministro do núcleo político, a relação com o Congresso ''saiu do totalmente controle''.

- O presidente está refém dos resultados da economia. Isso só não basta. Com a Coordenação Política assim, corremos o risco de colocar tudo a perder em 2006 - ponderou um ministro muito ligado a Lula.

No Planalto, também há uma avaliação de que essa nova conduta mais ''personalista'' do presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), acabou por enfraquecer o ministro da Coordenação.

- A Câmara sempre teve os seus problemas. Mas o Senado era considerado favas contadas pelos operadores políticos. Era o que segurava o Aldo - acrescenta o ministro.

Renan também era um dos principais defensores do ministro dentro da base governista. Mas até ele já admite a interlocutores que a situação de Aldo é complicada. Faz coro na análise o vice-líder do governo no Senado, Ney Suassuna.

A bancada petista no Congresso avalia que Aldo perdeu a representatividade junto ao partido. Lembram que na última semana, pela absoluta ausência de articulação no Senado, o líder do governo, Aloizio Mercadante, apanhou sozinho no debate com a oposição sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal. Enquanto isso, Ney Suassuna e Delcídio Amaral saboreavam tranqüilos um café na liderança do PMDB.

Até dentro do próprio partido, Aldo enfrentou um dissabor. Na discussão sobre a ''Timemania'', a loteria idealizada para sanear as finanças dos clubes, o ministro defendeu que deveria ser criada por meio de projeto de lei. Prevaleceu, no entanto, a tese do colega de partido, o ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, pela edição da medida provisória.