Título: PMDB cobra cargos e pede liberação de emendas
Autor: Sérgio Prado e Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 07/05/2005, País, p. A2

Líderes do partido reclamam que o governo não atendeu nem a metade dos pedidos

Apesar do acordo para a derrubada da verticalização das coligações, as arestas do governo com o PMDB são sérias e estão longe de ser aparadas. Duas das principais reivindicações do partido foram tratadas de forma superficial na reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anteontem no Palácio do Planalto: as indicações para cargos de segundo escalão e a liberação de emendas parlamentares. Além disso, o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP) ainda não conseguiram digerir a prorrogação do mandato de Michel Temer (PMDB-SP) na presidência do partido. Enxergam as digitais do chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, na operação. Com relação aos cargos, os peemedebistas estão contrariados com as demissões em série de integrantes do partido pelo ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que está acomodando afilhados políticos do PL no DNIT. Além disso, o PMDB ainda corre o risco de perder a presidência dos Correios para o PTB e reclama por não ter visto nem metade de suas indicações atendida pelo Planalto. Por isso, aguarda uma nova conversa com o presidente para breve.

O acordo pela derrubada da verticalização é o único avanço visível. Na reunião de quinta-feira, Lula orientou o presidente do PT, José Genoino, e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), a trabalhar pela aprovação da proposta de emenda constitucional que acaba com a regra. O PT é, pelo menos no discurso, contrário à idéia. Genoino e Mercadante foram convencidos a mudar de posição depois de os peemedebistas reafirmarem ao presidente Lula e aos ministros Dirceu e Aldo Rebelo que a manutenção da verticalização das coligações inviabilizará a formação de uma chapa única para concorrer na eleição presidencial do próximo ano.

Na encontro, Renan, os dois ministros do PMDB, Eunício Oliveira (Comunicações) e Romero Jucá (Previdência), e os líderes no Senado, Ney Suassuna, e na Câmara, José Borba, também disseram que, se a verticalização for mantida, a tendência é que o partido lance candidatura própria ao Planalto.

O PMDB luta para derrubar a regra que obriga os partidos a seguirem nos estados as alianças fechadas em nível nacional porque tem o PT como adversário direto em diferentes unidades da federação. No Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Rio Grande do Norte, não há chance de composição entre os partidos, e o PMDB terá de buscar apoio na oposição para se fortalecer na disputa contra os petistas.

Isso será inviável se apoiar a reeleição de Lula sob a vigência da verticalização.

O presidente Lula determinou aos seus interlocutores no Congresso que tratem de convencer os deputados petistas a aprovar a derrubada da regra. Até porque, na reunião no Planalto, PT e PMDB chegaram à conclusão de que formarão uma chapa única para concorrer em 12 estados. E as chances de isso acontecer nos outros 11 estados restantes, desconsiderando-se RJ, RS, RN e DF, são grandes. Um dos argumentos que podem ser usados pela tropa de choque palaciana é a cobrança de coerência. Em 2002, quando liderava a oposição, o PT recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar a verticalização das coligações. Mas perdeu, por maioria de votos, o julgamento.

- A conveniência dos partidos não pode prevalecer sobre as disposições da legislação, que confere às siglas um caráter nacional - disse, na ocasião, o ministro Nelson Jobim, atual presidente da Corte.