Título: Fiscal é suspeita de rombo de 3 bilhões
Autor: Ana Paula Verly e Nelson Carlos de Souza
Fonte: Jornal do Brasil, 07/05/2005, País, p. A3

Presa na Barra da Tijuca, Maria Auxiliadora Vasconcelos é presidente do Sindicato dos Servidores de Arrecadação do INSS

Presidente do Sindicato dos Servidores de Arrecadação do INSS (Sinsera), a auditora fiscal Maria Auxiliadora de Vasconcelos, foi presa ontem pela força-tarefa composta pelo Ministério Público Federal, INSS e Polícia Federal, em sua casa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ela é acusada de envolvimento no desvio de R $9 milhões dos cofres da Previdência Social e de integrar um grupo de 13 fiscais que ao longo de 10 anos desviou R$ 3 bilhões dos cofres da Previdência. O procurador Fábio Moraes de Aragão, do Ministério Público Federal, pediu a prisão preventiva da auditora com base em escutas telefônicas autorizadas pela justiça. Numa gravação, a auditora conversa com um funcionário da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e revela um esquema de pagamento de propinas para empresas que não quisessem ser fiscalizadas. Em outro diálogo, Maria afirma que no Rio é muito fácil ser corrupto. O presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, ficou supreso com a informação de que funcionários seus estão envolvidos em esquema de propinas. Em nota oficial, o empresário diz que o órgão dará total apoio às investigações, pois é de interesse da federação que os fatos sejam esclarecidos. Gouvêia revelou também que será instaurado um procedimento interno para apurar a acusação.

- Aqui não existe caixinha. Não tenho a menor idéia do que seja isso. Essa casa não tem nada a ver com essa desonestidade no INSS. A Firjan dará total apoio as investigações do MP para que os fatos sejam esclarecidos até as últimas conseqüências.

Segundo o procurador Fábio Aragão, Maria Auxiliadora visitava as empresas devedoras e armava um esquema para zerar os débitos em troca de dinheiro. Ele contou que existem indícios de que o Sinsera, que funcionava há três anos no quarto andar do edifício número seis da Rua do Carmo, no Centro, era apenas fachada para que o grupo cometesse as fraudes. A força-tarefa apreendeu no escritório do sindicato várias garrafas de uísque e documentos. Todo o material foi levado para pericia. Entre eles havia planilhas de empresas com um ranking das devedoras.

Outra suspeita que reforça a participação de Maria Auxiliadora nas fraudes é que, segundo a Receita Federal, ela possui um patrimônio incompatível com o salário que recebe, em torno de R$ 12 mil. A auditora possui 10 imóveis e três carros, dos quais dois importados.

Ao ser presa, às 6h30 de ontem, em sua casa na Rua Almirante Jorge Dodsworth Martins, número 550, na Barra da Tijuca, não demonstrou surpresa. Sorridente, fez ironia diante dos integrantes da força tarefa: ''Ah, são vocês, eu já estava esperando mesmo.'' Para os policiais, a auditora disse que ficará apenas cinco dias.

- Ela é uma pessoa importante. Presidente de um sindicato, chegou a pedir auxílio ao ministro da Justiça e ao superintendente da Polícia Federal - disse Aragão.

A auditora trabalhava há 20 anos no INSS e, por conta deste tempo, o procurador afirmou que não há como apurar se todas as suas atividades ao longo desses anos foram ilícitas. Mesmo assim, os eventuais crimes do passado podem estar prescritos. Aragão contou que na operação a força-tarefa selecionou nove empresas para amostragem. Em três casos foram encontradas irregularidades.

O delegado da Polícia Federal e coordenador da força-tarefa, Luiz Sergio Góis, disse que outro inquérito será instaurado para apurar a participação dos suposto grupo da Firjan nas 109 empresas envolvidas no esquema de fraude. A Força-Tarefa quer saber se os empresários foram vítimas de extorsão ou se teriam pago propinas para terem seus débitos com o INSS cancelados.

Maria Auxiliadora está presa na Penitenciária Nelson Hungria, no complexo Frei Caneca. Ela vai aguardar julgamento na cadeia. No dia 22 será ouvida na justiça. Caso seja condenada nas três fraudes detectadas pela força-tarefa - segundo a amostragem das contas - pode pegar até 24 anos de prisão.