Título: ''Garotinho não é o único nome do PMDB''
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 08/05/2005, País, p. A3
Na última semana, uma reunião da executiva do PMDB optou por adiar a Convenção Nacional do partido para 2007. Com isso, o deputado federal Michel Temer (SP), presidente da sigla desde 2001, ficará mais um ano no comando. Um dos líderes da ala que se autodenomina independente do Planalto, Temer conduzirá, aos 64 anos, a legenda com maior número de vereadores e prefeitos no processo eleitoral do próximo ano. Acredita que é a hora de o PMDB ter candidato à Presidência. A última vez que isso ocorreu foi em 94. ¿ É o desejo da maioria do PMDB. É útil lançar um candidato, pois temos condições de disputa e além disso, o lançamento de candidato ajuda as candidaturas proporcionais ¿ analisa.
Até agora, apenas o ex-governador Anthony Garotinho ¿ que se mostra publicamente unha e carne com Temer ¿ se colocou como pré-candidato, mas o deputado alega que o presidenciável só será definido nas prévias, marcadas para o início do ano que vem. Temer diz não faltar nomes: cita os seis governadores do PMDB ¿ entre eles Germano Rigotto ¿, os ex-presidentes Itamar Franco e José Sarney, e o presidente do Congresso, Renan Calheiros.
A menos de um ano e meio das eleições, o PMDB que tanto lutou por cargos na reforma ministerial, agora diz:
¿ Nesse momento, especialmente em face da convenção, não cogitaríamos a hipótese de ampliação de espaço ministerial.
- A prorrogação de seu nome na presidência do PMDB significa mais independência em relação ao Planalto?
- Não é só meu mandato que foi prorrogado. Houve o adiamento da convenção nacional. Foram mantidos os membros das executivas nacional e estaduais. Isso é o reconhecimento de que esta comissão deve conduzir o processo eleitoral no próximo ano. É uma afirmação também de unidade partidária.
- Agora, o governo fica obrigado a dar mais importância aos partidos que atuam na governabilidade?
- Em todas as democracias o governo administra com os partidos. Não há como ignorá-los. Faltou, em relação ao PMDB e talvez aos demais partidos, um diálogo mais institucional, mas que começou a se dar de dois meses pra cá.
- O partido, de fato, pretende ter candidatura própria à Presidência?
- Houve uma convenção nacional que deliberou nessa direção. A idéia é ter candidatura própria. Este é o desejo da maioria do PMDB. É útil ao partido lançar um candidato à Presidência, pois temos condições de disputa. Temos o maior número de prefeitos, vereadores, muitos governadores, vários de estados importantes, e também nomes para lançar ao Planalto. Isso ajuda as candidaturas proporcionais.
- O partido poderia abrir mão de concorrer à Presidência pela vice-presidência na chapa de Lula?
- Isso depende de decisões majoritárias, que são expressadas nas convenções. Se um dia a convenção decidir nesta direção, assim será.
- Não interessa ao partido ampliar a colaboração no governo participando mais de ministérios?
- Temos colaborado com o presidente mesmo quando não estávamos no governo. Em 2003, dos 77 projetos que o Executivo mandou, o PMDB ajudou a aprovar 75. O partido tem, portanto, um compromisso com o país e com a governabilidade. Tive a oportunidade de dizer ao presidente Lula, que assim seria o procedimento do PMDB na Câmara e no Senado. Ou seja, vamos auxiliar o governo a aprovar os projetos coincidentes com as aspirações da sociedade. Não nos opomos aos gestos do governo. Mas, quero distinguir bem o apoio à governabilidade, que se dá no Congresso, e o projeto próprio do PMDB.
- Na reforma ministerial foi cotado o aumento da participação do PMDB no governo com mais ministérios. Isso não visaria às eleições?
- Preferimos cuidar dessa matéria no próximo governo. Quando falamos em candidatura própria, a proposta é levar para o segundo turno e tentar vencer as eleições. Mas, se isso não ocorrer, podemos pensar numa campanha de segundo turno de coalizão governamental. Nesse momento, especialmente em face da convenção nacional, não cogitaríamos a hipótese de ampliação de espaço ministerial. No âmbito institucional não desejamos aumentar o espaço.
- Lula foi muito criticado por não cumprir promessas por cargos. O governo é falho em honrar acordos?
- Do ângulo do PMDB, não devo fazer nenhuma consideração à respeito disso, pois não temos interesse em espaço ministerial. Mas é preciso uma boa articulação política no Congresso. Há figuras expressivas no governo que fazem essa articulação mas podem melhorar esse desempenho. Quando digo que estamos dispostos em colaborar com a governabilidade, o ideal é que o governo veja o PMDB como um parceiro para aprovar projetos de interesse do país. O governo não pode nos ver apenas como um parceiro de natureza eleitoral. É até legítimo que o governo veja o PMDB dessa maneira, mas a principal preocupação neste ano é com a governabilidade, portanto, deve nos ver como parceiro para a aprovação de projetos. Se tivéssemos esse tipo de relacionamento, o governo teria muito sucesso na Câmara.
- Preocupa ao governo a divisão que existe hoje no PMDB?
- Disse a Lula que uma das colaborações que o PMDB poderia dar seria a crítica. Que possamos alertar o governo para alguns equívocos. Registro o caso da MP 232 assim como, para o futuro, a reforma sindical. Há grande resistência em relação a isso, então, pergunto em que a reforma vai beneficiar a sociedade. Vai reduzir juros? Melhorar as relações entre Legislativo e Executivo? A economia do país? Absolutamente não. Seria um desgaste desnecessário patrocinar uma reforma sindical agora. Se há equívocos em algumas estruturas sindicais, dependem de fiscalização e de eventual punição. Não de reforma sindical, que cria grandes embaraços. E quando faço uma afirmação dessas estou colaborando muito sinceramente com o governo para que tome o rumo político adequado.
- Como o PMDB se coloca hoje: aliado, independente ou oposição?
- O PMDB é um partido que colabora com a governabilidade, quer colaborar no Congresso, mas, por outro lado, quer seu projeto próprio de natureza política. Foi esta a decisão da convenção. Enquanto persistir esta decisão não há outro caminho. Temos certa independência. Critica-se o vocábulo 'independência', mas tem essa significação: colabora-se com o governo aprovando projetos importantes para o país, e ao mesmo tempo estrutura-se um projeto próprio para o partido.
- Como será a relação do PMDB com o governo até as eleições de 2006?
- Institucional, na qual o presidente e os ministros das áreas interessadas em determinados projetos no Congresso podem ligar ao presidente do partido, aos líderes das bancadas, ao presidente do Congresso e registrar suas preocupações e discutir projetos. É dessa forma que o PMDB se sente participando das políticas públicas do país.
- Qual a situação do secretário Anthony Garotinho no partido?
- Ele pode eventualmente ser um pré-candidato à Presidência. Vamos escolher o candidato entre os que se apresentarem e Garotinho é um deles.
- É o principal candidato do partido?
- É o candidato mais declarado. Tem um projeto com o objetivo de alcançar no partido sua candidatura.
- O nome lhe agrada ou é preciso aguardar outros pré-candidatos?
- Tenho toda consideração pelo Garotinho. Ele pode ser um candidato de muita força no partido. Mas, evidentemente, não é o único nome do PMDB. Todos nossos governadores, sem exceção, podem habilitar-se a essa candidatura. Germano Rigotto (RS), Roberto Requião (PR), Luis Henrique (SC), Joaquim Roriz (DF), Jarbas Vasconcellos (PE). Há o presidente do Congresso, Renan Calheiros, e os ex-presidentes Itamar Franco e José Sarney. Qualquer um deles pode ser candidato.
- Como está o PMDB na disputa do governo do Rio?
- Um dos nomes que despontam com força é o do senador Sérgio Cabral. Mas quem vai decidir é o PMDB do Rio. O fato de ele ter perdido eleições majoritárias antes não significa nada. Posso enumerar casos de candidatos que tentaram várias vezes, e só na terceira ou quarta conseguiram se eleger. Lula se candidatou quatro vezes.
- O Garotinho é tido como principal opositor do governo. É possível uma aliança com o PMDB no Rio?
- Não saberia dizer, é muito cedo. Isso deve ser visto ano que vem.
- Qual o seu posicionamento em relação à verticalização?
- Teoricamente a verticalização é correta. Se destina a fortalecer os partidos. Mas, nesta teoria, estaria supondo a verticalização num sistema político de quatro, cinco ou seis partidos. Mas, num sistema em que há 27 siglas registradas no Tribunal Eleitoral, não há como manter isso. Há realidades locais muito divergentes das nacionais. É uma tese teórica correta, que deve ser aplicada quando houver uma natural redução do número de partidos.
- Sem a reforma política a verticalização se torna inviável?
- Claro. A verticalização tem de vir no interior de uma grande reforma política, ainda que viesse fatiada. Haverá um esforço ainda neste ano para votar o projeto. Calheiros tem feito reuniões com os presidentes de partidos para obter uma reformulação política. Possivelmente parte disso entraria em vigor nas eleições de 2006, algumas teses na eleição de 2008 e outras em 2010.
- A ausência da verticalização não confunde o eleitor?
- Com certeza. Mas exatamente em função do grande número de partidos. Não teria objeção, desde que cada um representasse uma corrente do pensamento. Há partidos pequenos que representam uma ideologia e podem crescer, mas isso não significa que o país precise ter 27 partidos.
- Não há muitas siglas de aluguel?
- É preciso fazer a diferença entre sigla partidária e partido. Temos no Brasil muitas siglas, por isso, temos de caminhar para uma reforma em que os partidos fossem identificados como correntes de pensamento. Mas, há partidos definidos. O PMDB busca, até com o professor Carlos Lessa, montar um projeto para o país, que seja a fisionomia do partido. Fisionomia que já esteve definida no passado. Houve um tempo em que o PMDB tinha como bandeira a redemocratização. Então justificava-se um partido político com uma afirmação ideológica grande. Estamos procurando retomar essa fisionomia clara com um grande projeto social.
- O encontro de Garotinho com o presidente Lula está marcado?
- Falei com Lula que para apoio parlamentar seria interessante ele ouvir todas as lideranças. Ele já ouviu algumas e creio que irá ouvir o Garotinho, mas não há data marcada.
- Como analisa a variação na relação do PMDB com o PT em cada estado?
- Poderíamos inverter essa afirmação: por que motivo há vários tipos de relação do PT com o PMDB nos diferentes estados? Muitas vezes a dificuldade de aliança nasce mais do PT do que do PMDB. Há estados em que essa divergência é muito grande e exatamente em função delas é que fica difícil um ajustamento nacional.
- A impossibilidade da aliança nacional se dá pelas relações nos estados?
- As realidades locais dificultam qualquer espécie de ajustamento. Em certo sentido há hoje unidade. Os seis governadores do PMDB estão de acordo com o que aconteceu na convenção. Estiveram lá e apoiaram a tese de candidatura própria. Não é uma coisa que saiu da cabeça de um convencional, muitas vezes em razão das dificuldades locais.
- Que tema precisa ser visto por quem pretenda governar o país?
- Desenvolvimento. É gerador de emprego, valoriza a educação e resolve a segurança. Podemos usar como base o modelo econômico atual, mas abandonando o tema da moeda e colocando o homem no centro das preocupações. É quase um retorno ao humanismo.
- Seria a maior crítica ao governo?
- Não é uma crítica, mas uma observação: já está passando da hora de reduzir juros, pois está ligado ao desenvolvimento. A produção se ancora nele.