Título: ''O machismo não permitia cargos''
Autor: Solange Bagdadi
Fonte: Jornal do Brasil, 09/05/2005, País, p. A2

''Se hoje a mulher no Exército ainda é um tabu, imaginem em 1942, quando me formei enfermeira e me habilitei a participar da guerra. Ao ver que o Brasil poderia entrar no conflito, me apresentei ao diretor de saúde do Exército, general Souza Ferreira. Ele ficou estupefato, mas disse que se houvesse guerra, me mandaria. Depois disso, segui para o Nordeste e lá tive o meu primeiro contato com cenas de guerra. Dia 27 de setembro de 1943, foi torpedeado o navio Itapagé. De Pernambuco viemos para o Rio, quando recebemos um ultimato dos americanos. E assim foi criado o voluntariado de enfermeiras do Exército. Como era a primeira vez que havia mulher no Exército, nos castigaram: tínhamos de passar num pórtico de 5 metros de altura todo o dia. Até hoje não sei por quê. O primeiro grupo de enfermeiras militares foi distribuído em classes (primeira, segunda e terceira). O machismo não permitia que nos fossem dados cargos. Na Itália, éramos cinco. Já havia 300 homens com doenças das mais variadas: sarampo, catapora, caxumba, varicela... O trabalho não foi fácil. Das 67 enfermeiras que foram a guerra, restaram 19''.

Enfermeira que serviu no Teatro de Operações da Itália.