Título: A cicatriz da intervenção
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 09/05/2005, Opinião, p. A10

Depois de mais de um mês de embates entre as autoridades, decorrentes da intervenção no setor da saúde carioca, não deixa de ser um alívio para a população o acordo selado entre o Ministério da Saúde e a Prefeitura do Rio. O governo federal reassumirá a gestão das quatro unidades municipalizadas em 1999: os hospitais da Lagoa, do Andaraí, de Ipanema e Cardoso Fontes, em Jacarepaguá. O ministério ainda repassará R$ 45 milhões à prefeitura. A crise política instalada pela bem-sucedida intervenção federal parece, portanto, chegar ao fim. Do episódio extraem-se lições relevantes sobre um mito que Cesar Maia tentou emplacar. A penúria a que cidadãos de bem - sobretudo os mais pobres - foram submetidos nos hospitais sob seu comando espalhou rastros nítidos de que a prefeitura falhou sucessivamente na gestão do setor. Embora a crise carioca seja apenas um exemplo das chagas diagnosticadas nacionalmente, o prefeito poderá pagar um alto preço político. Desfez o rótulo da competência, substituído pela marca de um gestor que se omitiu diante de uma doença crônica capaz de ferir a população e deixar seqüelas não cicatrizadas na imagem do prefeito.