Título: Fronteira cultural ficava em Itapeva
Autor: Marcelo Ambrosio
Fonte: Jornal do Brasil, 08/05/2005, Internacional, p. A11

Na parte paulista da pesquisa, coordenada pelo professor Paulo DeBlasis, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, as descobertas não se mostraram menos interessantes. Foram pelo menos 80 sítios catalogados, alguns de grande importância histórica.

- O projeto detectou uma fronteira em Itapeva, no Sul do estado, que separava tribos indígenas pré-históricas, algumas já existentes na época da chegada dos europeus, os grupos ceramistas Tupi (guaranis) e Itararé (caingangues) - explica DeBlasis. Além disso, em uma caverna perto da cidade de Guareí, os vestígios de ocupação datavam de 5.500 anos e foram relacionados a caçadores-coletores.

De acordo com o arqueólogo, o que difere as culturas Tupi e Itararé é, principalmente, as formas e a decoração dos vasos que ambas fabricavam. As aldeias, de porte médio, não teriam idade anterior a 2 mil anos.

- A cerâmica Itararé é bem menor e tem forma globular. A Tupi é maior, pintada de vermelho e branco, traz motivos geométricos e contornos complexos, com ombros para ser carregada - descreve o coordenador, ressalvando que tais diferenças não indicariam estágios de desenvolvimento, mas uma questão de estilo. - Eram culturas contemporâneas em termos de evolução - completa. Esse padrão, segundo ele, segue em direção ao Sul.

Paulo DeBlasis destaca um dos sítios dessa região, onde foi demarcado um cemitério caingangue que teria em torno de 600 anos. Este foi caracterizado por montículos de terra com pedras em círculo ou empilhadas, dispostos em forma de ferradura em torno de uma nascente. Foram localizados 60 ou mais túmulos, confirmados pelo teor de fosfato na terra (resultante da decomposição dos corpos), e por elementos votivos (como vasilhas e potinhos).

- Conseguimos relacionar o material arqueológico com padrões etnográficos que conhecíamos dos próprios caingangues no Paraná. Os ritos funerários contam muito de como aquela sociedade vivia. Esse local era tão rico que o transformamos em um sítio-escola - revela o arqueólogo, cujo trabalho, junto com os resultados dos outros grupos, foi sintetizado em um livro lançado esta semana, no Rio, pela empresa que constrói o gasoduto, a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG).