Título: A marcha da insensatez
Autor: Ubiratan Iorio
Fonte: Jornal do Brasil, 09/05/2005, Outras Opiniões, p. A11

Deu-nos conta a mídia de que milhares de abrigados sob o manto vermelho do MST - muitos dos quais entendem menos de agricultura do que o autor deste artigo, cuja maior proeza na área foi ter plantado, quando criança, uma mangueira e algumas samambaias - marcharam de Goiânia para a capital federal, com o intuito de pressionar o governo a acelerar as desapropriações e distribuições de terras. Munidos de radinhos de pilha, com uma estação de rádio à sua disposição em tempo integral e portando câmeras digitais (cujos preços de mercado não condizem com a sua condição de ''excluídos'') para registrar seus passos, proporcionaram uma triste demonstração de como se manobra levas de pessoas sem instrução, com o intuito de desestabilizar uma das instituições consagradas há séculos - o direito de propriedade - e de como se consegue, sob o escabeche bolorento e esquerdopata de ''movimento social'' , mobilizar milhões de reais para defender a insensatez e o atraso. Temos o direito de saber de onde vem todo esse dinheiro! A badalada reforma agrária, nos moldes que pretendem os líderes do MST - um grupo que nem registro oficial possui, mas que é perigosamente tolerado e, dizem muitos, financiado, por reais oficiais e pelo terrorismo das Farc -, é carta fora do baralho no mundo de hoje. Equivale, para darmos um exemplo simples, a bradar contra o transporte por automóveis, para restabelecer o das carruagens e charretes. Com efeito, os que estão à frente dos invasores de terras alheias fingem desconhecer que, com o extraordinário desenvolvimento das tecnologias agrícolas, amparado por pesquisas científicas na área da biotecnologia, o modelo que defendem é retrógrado, ineficiente e descabido; parecem ignorar que a idéia, mais velha do que Matusalém, de ''fixar o homem no campo'', é simplesmente absurda nos tempos que correm, haja vista que a população agrícola das maiores economias do mundo é mínima: 1,5% nos EUA, cerca de 3% na Europa e, mesmo no Brasil, apenas de 8% no estado de São Paulo, cuja agricultura é a mais produtiva do país; parecem odiar a tecnologia, que aumenta a produtividade e torna enxadas, foices e outros instrumentos objetos rupestres, de interesse apenas para arqueólogos; parecem, enfim, julgarem-se acima do bem, do mal, da lei, da ordem e da moral, quando fazem reféns, invadem, destroem e ameaçam quem se coloca contra o seu marxismo vulgar.

A lei existe para ser cumprida, mas esta obviedade não parece tão ululante para algumas de nossas autoridades, cujo grau de tolerância para com esses baderneiros chega aos píncaros da irresponsabilidade. Governar é bem diferente de subir em carros de som e gritar palavras de ordem, de insuflar a desordem e de organizar movimentos de protesto, coisas que muitos dos que hoje compõem o governo fizeram por anos a fio, quando estavam na oposição; governar, tampouco, não é passar a mão na cabeça de invasores adestrados como cachorrinhos de madames para repetirem gestos e gritos como bonecos de ventríloquos. Governar é assumir uma responsabilidade que vai muito além de chavões, palavras de ordens e promessas mirabolantes de campanha, que é a de zelar pelo bem comum; é respeitar a Constituição, que estabelece o direito à vida, à liberdade e à propriedade; governar é trabalhar duro para prover instituições que estimulem a iniciativa das pessoas; é punir quem desrespeita a lei; é, enfim, dar tranqüilidade para quem trabalha - no campo ou nas cidades -, para que possa fazê-lo em paz.

O governo do PT precisa entender - e já é mais do que tempo para isso! - que sua fase de palanques já passou e que sua obrigação atual para com todos os brasileiros é a de governar, o que inclui, obviamente, punir baderneiros que ameaçam a ordem pública. A insensatez, quando prejudica a sociedade, é intolerável!