Título: ''Vamos agregar valor à Brasil Telecom''
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 08/05/2005, Economia, p. A21

Paolo Dal Pino comemora o desfecho de uma batalha que parecia interminável pelo controle da Brasil Telecom, operadora de telefonia fixa nas regiões Sul e Centro-Oeste. A compra da participação do Grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, no entanto, parece não ter encerrado as disputas. Mas o presidente da Telecom Itália no Brasil está otimista e acredita que convencerá os demais sócios, o Citigroup e fundos de pensão, sobre as vantagens da volta dos italianos ao controle. A seguir, os principais trechos da entrevista: - O senhor poderia explicar a operação que a Telecom Itália fez com o Opportunity?

- A decisão tomada pelo grupo foi uma decisão industrial, criando forte valor para todos os acionistas envolvidos e que, sem dúvida, colaborará para o desenvolvimento de setor de telecomunicações no Brasil.

- Como a operação agrega valor?

- Antes de mais nada, gostaria de esclarecer que são duas operações bem diversas: uma, de ordem industrial, entre Brasil Telecom e TIM, e a outra entre Telecom Itália e Opportunity. A partir desse acordo, a TIM Brasil passa a utilizar a longa distância da Brasil Telecom, agregando ao portfólio desse serviço 15 milhões de clientes, além de contar com o roaming nacional e internacional fora de sua área de atuação. Além disso, não precisará mais investir na sua operação móvel, passando a utilizar toda a infra-estrutura da TIM, além de poder se valer do know-how tecnológico da TIM e haver o compartilhamento das atividades comerciais, de marketing e a rede de distribuição das duas operadoras. Por outro lado, a TIM Brasil devolve sua licença de longa distância para a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e passa a compartilhar os sites já implementados pela Brasil Telecom Celular que, por sua vez, compartilhará os da TIM em todo território nacional. Naturalmente, a Brasil Telecom Celular devolverá sua licença móvel para a Anatel.

- Por que a Telecom Itália não esperou para fazer esse acordo depois que o Citigroup e os fundos de pensão tirassem o Opportunity completamente da cadeia de controle?

- Bem, nós tínhamos um prazo de 18 meses dado pela Anatel para que tanto a Brasil Telecom, quanto a TIM resolvessem o problema da sobreposição de licenças de longa distância e móvel. As discussões foram iniciadas há muito tempo e agora nós não podíamos correr o risco de, terminado esse prazo, a Brasil Telecom ficar exposta às sanções por parte do órgão regulador. Por outro lado, depois de tentar negociar com o Citi e com os fundos, nós chegamos a um ponto que entendemos que essa negociação não se concretizaria, apesar de sempre termos acreditado no espírito de parceria que nós achávamos que tínhamos com os outros sócios, que é o espírito da própria privatização na Brasil.

- Mas o sr. está afirmando que os sócios não quiseram realizar o acordo?

- A Telecom Itália quer criar um forte valor para a Brasil Telecom e relançá-la definitivamente. Ainda não conseguimos explicar aos outros parceiros, o Citi e os fundos, os benefícios que a Brasil Telecom e seus acionistas podem usufruir com a operação. Estamos trabalhando conforme os acordos e regras fundamentais da privatização e da concorrência do mercado brasileiro. Quando Citi e fundos investiram na Brasil Telecom na ocasião da privatização, já constava claramente no acordo de acionistas que eles não poderiam vender a própria participação a outros operadores de telecomunicações. Com este acordo, tivemos nossos direitos restabelecidos, e o mais importante: a Telecom Itália conseguiu restabelecer a configuração original da sociedade.

- Mas o sr. pode explicar a tentativa de leilão com outros operadores?

- Fomos informados pelo Citi e pelos fundos que eles falaram com a Telemar e a Portugal Telecom para vender-lhes suas participações na Brasil Telecom e isso, conforme já expliquei, é contra a Lei Geral das Telecomunicações.

- Por que a Telemar ou a Portugal Telecom não podem comprar a Brasil Telecom?

- Não só por causa da Lei Geral das Telecomunicações, mas também pela Anatel e pelo Cade (Conselho Administrativo de Direito Econômico) essas empresas não podem adquirir a Brasil Telecom por total conflito com a legislação vigente.

- Mas se o sr. fala que foi um acordo ótimo para todos os acionistas, que agrega valor, que resolveu o problema com a Anatel, por que os fundos e o Citi entraram na Justiça contra essa operação?

- Eu gostaria de deixar claro que, com essa operação criada pela Telecom Itália para comprar os assets (ativos) do Opportunity, entendemos ter resolvido definitivamente a disputa com Daniel Dantas afastando-o definitivamente da cadeia de controle da Brasil Telecom. Nós pagamos uma soma elevada para atingir esse objetivo, o que já foi um sacrifício para o Grupo Telecom Itália, que ajudou também os demais sócios. De fato, graças a esse acordo, nós conseguimos a conversão das ações preferenciais da Solpart, atingindo um objetivo que tanto o Citi quanto os fundos perseguiam, porém Daniel Dantas não fazia.

- Como se sente sabendo que o Citi, através de um de seus altos executivos, está por trás das investigações da Kroll?

- Eu penso só nos assuntos industriais. O caso Kroll está na esfera da Polícia Federal.

- Qual é a solução para o impasse?

- Com os fundos e Citi entendendo que os sócios têm que pensar no projeto industrial da firma, que é bom e que cria valor para todos os acionistas. Eu acho que nenhum dos nossos acionistas fica feliz com essa situação de impasse.