Título: Indústria refém da demanda
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 08/05/2005, Economia, p. A23

De acordo com a consulta pública disponibilizada pela Anvisa e base da regulamentação que deve ser publicada até o fim do mês, a indústria farmacêutica será a primeira etapa do processo, facultativo, de fracionamento de medicamentos.

A Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma) defende que o fracionamento não seja aplicado aos medicamentos de dose definida e aos de uso contínuo.

Segundo nota divulgada pela instituição, a mudança na apresentação de remédios de dose definida pode levar ao consumo insuficiente, ''acarretando riscos elevados à saúde do usuário'', enquanto os de uso contínuo podem levar à ''interrupção do tratamento pelo paciente''.

Dirceu Raposo, da Anvisa, no entanto, lembra que as vendas só poderão ser feitas de acordo com as receitas, o que impossibilita o consumo aquém do exigido pelo médico.

- A indústria que optar pelo fracionamento vai ganhar vantagem no mercado, pois vai chegar primeiro, fidelizando o consumidor - aposta o diretor da Agência de Vigilância Sanitária.

Lumena Sampaio, do Idec, lembra ainda que alguns remédios vendidos atualmente sem a necessidade de receita já estão disponíveis nas farmácias em unidades pequenas, de quatro comprimidos.

- Isso mostra que a indústria já tem alguma estrutura para produzir frações menores das embalagens - garante.

Fontes da indústria farmacêutica afirmam que, caso o mercado exija o fracionamento, os laboratórios terão que se adaptar, mesmo com custos um pouco maiores.

- Se a medida for facultativa, cada indústria, de genérico ou não, vai decidir se adere ao processo. Isso vai depender da demanda por parte do consumidor. A indústria não pode ser contra o fracionamento, até porque, se o mercado exigir, vamos ter que nos adaptar - diz um executivo do setor, que pediu para não ser identificado.