Título: Indústria mais rentável no Rio
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 09/05/2005, Economia & Negócios, p. A19

Estudo revela, no entanto, que endividamento e geração de caixa do setor ainda deixam a desejar

Os primeiros anos do século XXI foram benéficos à rentabilidade das principais empresas do setor industrial do Estado do Rio. Mas a evolução das finanças ainda deixa a desejar em quesitos relacionados a endividamento e geração de caixa. As conclusões foram obtidas com base em estudo do ranking das 200 maiores companhias do setor entre os anos de 2002 e 2004, com base, respectivamente, em resultados financeiros verificados entre 2001 e 2003.

O levantamento, que permite avaliar o comportamento contábil das 163 empresas presentes nos três rankings, foi realizado pela Fundação Getúlio Vargas em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

No período, a relação entre o retorno (lucro ou prejuízo) e o patrimônio, indicador de rentabilidade, dobrou, passando de 4,14% para 8,47%. Para a FGV e a Firjan, o dado demonstra uma sensível melhora da indústria estadual.

- O resultado é muito positivo. Uma rentabilidade de 4,14%, como a apresentada em 2001, torna praticamente inviável a atividade empresarial. Isso significa que seria mais vantajoso aplicar na poupança do que na indústria. Mas aquele foi um período muito complicado, devido à crise econômica gerada pelo racionamento - avalia Luciana de Sá, chefe do Departamento de Pesquisas Econômicas da Firjan.

- E o resultado de 8,47% para um ano como 2003, quando o país ainda estava saindo da crise pré-eleitoral, é uma indicação de que, no ranking de 2005, que avaliará os balanços de 2004, os resultados se mostrarão ainda melhores.

Outros dois indicadores considerados permitem uma avaliação da saúde financeira da empresa, de acordo com a pesquisa. Uma das análises tomou como base as relações entre os recebíveis (créditos a receber) e os exigíveis de curto prazo (obrigações como pagamento de dívidas e salários, por exemplo), ou seja, a liquidez corrente. Trata-se de uma medida de solvência num prazo de 12 meses e avalia se os recebíveis são suficientes para fazer frente aos exigíveis.

Esse índice registrou 1,47 em 2001, passando para 1,55 em 2002, e caindo para 1,47 em 2003. Resultado abaixo de 1 mostra que a empresa corre o risco de ficar insolvente.

-Nesse item, não houve realmente melhora. Isso depende da geração de caixa e alongamento da dívida. Ainda não temos elementos para também imaginar como deve ter sido o desempenho do conjunto das empresas nas demonstrações financeiras de 2004 em relação a esse indicador, que dependeria, principalmente, do sucesso na busca das empresas em alongar suas dívidas - comenta Luciana.

Também foi verificada a utilização de capital próprio e de recursos de terceiros (como empréstimos), que permitem avaliar o grau de endividamento. O indicador evoluiu de 0,9 para 1,02 e, finalmente, caiu para 1. De acordo com a pesquisa, no Brasil, considera-se que uma relação acima de 1 marca o início da faixa de risco. Mas, para Luciana, pode haver uma explicação positiva.

- Não descartamos a possibilidade de o índice estar neste patamar em função de investimentos. E, no conjunto das demonstrações de 2004, o índice deverá vir muito melhor, já que foi um período em que houve uma grande redução do endividamento das empresas, que aproveitaram a cotação do dólar mais favorável para reduzir esse passivo.

Luciana também considera positivo o fato de que, no período estudado, houve queda no percentual de fábricas fluminenses com resultado negativo.

- No período, o índice caiu de 30% para 25%. Mas a proporção ainda está elevada.

Para o ranking de 2005, a ser elaborado com os resultados de 2004, Luciana aposta na melhora dos indicadores.

- O que pode impedir que esses dados se apresentem ainda de forma mais positiva é a elevação da taxa de juros, o que pode prejudicar todos os indicadores. Principalmente no caso das que conseguiram rolar suas dívidas.

O resultado da pesquisa será apresentado durante o lançamento, hoje, da décima edição do Cadastro Industrial do Estado do Rio de Janeiro. A publicação reúne informações sobre as indústrias situadas no estado, com dados sobre o número de empregados, setor de atividade, principal executivo, CNPJ, razão social e contatos. Inclui o ranking empresarial Firjan-FGV, que classifica as 200 maiores empresas do setor industrial do estado.

A edição traz o cadastro de 6.179 indústrias localizadas no Estado do Rio, onde trabalham 484.420 pessoas. Os setores que mais empregam no estado são construção civil, com 69.361 trabalhadores, alimentos e bebidas, (53.323), química e petroquímica, (40.603), metal-mecânica, (38.765), e o segmento têxtil e de vestuário (33.321).