Título: A Bolsa de novo em cena
Autor: Henrique Domingues Neto
Fonte: Jornal do Brasil, 09/05/2005, Brasília / Opinião, p. D2

Nada como uma virada de mês para animar investidores. Maio começou com boas notícias no mercado financeiro, com reflexos principalmente para a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que acumulou alta de 3% (índice Ibovespa) de segunda-feira a sexta-feira passadas. Se você tem perfil de investimento conservador - não se dá bem com os riscos da renda variável - o céu é de brigadeiro, pois os fundos de renda fixa e fundos DI estão aumentando suas rentabilidades devido à alta da taxa básica de juros brasileira (Selic). Mas se tem um pouco de sangue frio para comprar ações, é o momento de prestar atenção na movimentação dos papéis. Semana a semana, vínhamos comentando que, mesmo com a desvalorização de março e abril, o pequeno investidor deveria considerar ações uma boa aplicação em longo prazo. Papéis de boas empresas estavam com um preço baixo e poderiam ter excelentes recuperações se o comprador não tivesse pressa para o retorno financeiro. O que assustava os investidores eram as notícias pessimistas sobre a desaceleração da economia dos Estados Unidos e, como conseqüência, da economia mundial.

Mas maio começou com uma ótima notícia para as bolsas de valores do mundo inteiro, principalmente de países emergentes como o Brasil: as taxas de juros norte-americanas não subiram muito, ao contrário das expectativas.

O banco central daquele país (Fed) elevou em apenas 0,25% a taxa, e divulgou ata justificando a moderação com análise otimista sobre a inflação nos EUA. Para as autoridades monetárias, o aumento de preços em médio e longo prazo não será explosivo conforme as previsões anteriores.

Como principal conseqüência positiva, o Fed não deverá aumentar os juros abruptamente. Portanto, os títulos da dívida pública norte-americana (considerados os investimentos mais seguros do mundo) não vão incrementar a rentabilidade aos investidores. Por sua vez, esses investidores poderão procurar lucros maiores em títulos públicos e bolsas de valores de países emergentes, um sinal de revalorização da Bovespa.

Mas houve mais notícias quentes, a exemplo da criação de empregos nos EUA. Segundo boletins oficiais, a geração de postos de trabalho ficou acima do esperado, enfraquecendo a hipótese de uma estagnação econômica norte-americana.

Se o motor econômico global vai bem, o resto do mundo agradece... O comércio mundial evolui, as empresas registram bons resultados e as ações em bolsas de valores dão lucros a seus detentores.

No Brasil, os fatos não foram tão animadores. Estão mais para neutros. Exemplos: a atividade industrial, segundo o IBGE, ainda cresce em relação a 2004 mas está desacelerando; o comportamento dos índices de emprego é parecido.

Como o cenário externo era o que mais enfraquecia a Bovespa nas últimas semanas, os investidores voltaram a sorrir. E aquelas pessoas que tiverem um bom consultor de investimentos podem começar a pensar em lucros no curto prazo (algumas semanas), além do longo prazo - quando a Bolsa sempre é interessante.

Um resumo como guia para o pequeno investidor: as incertezas recentes derrubaram papéis de empresas sólidas, cujas perspectivas em longo prazo são excelentes em termos de desenvolvimento de negócios e, portanto, de lucros.

As turbulências atingiram, por exemplo, os setores de siderurgia, mineração e setor bancário. Basta olhar as variações na cotação dos papéis no ano de 2005 para se descobrir quais empresas de excelência tiveram quedas expressivas, de 10%, 20% ou até mais.

Não é possível dizer que tais companhias terão ações revalorizadas no médio prazo (poucos meses), mas o mercado está apontando para altas nas próximas semanas que podem ser bem aproveitadas por bons operadores de mercado. Ou seja, trata-se, aqui, de fazer compras e vendas rápidas, aproveitando oscilações em intervalos de dias ou semanas.

Para comprar ações com horizonte de lucro em curto prazo, lembre-se: além de confiar em um bom consultor de investimentos, não se pode aplicar dinheiro que pode fazer falta. Nesse caso, se a aquisição dos papéis é feita e a revalorização demora, só podem ocorrer duas coisas: ou o investidor terá de vender com prejuízo, ou não poderá dispor de seus reais até recuperar o capital.

Bons investimentos!