Título: Gouvêa Vieira quer rever tributos
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 18/10/2004, Economia & Negócios, p. A-19

Em seu quarto mandato na Firjan, executivo defende mudanças na lei fiscal para estimular investimentos no Rio de Janeiro

Um desafio espera Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira às vésperas de iniciar seu quarto mandato como presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), na próxima quinta-feira: buscar formas de diminuir a ação negativa da política tributária no estado. Apontada pelo empresariado como o principal obstáculo ao crescimento da atividade industrial fluminense, a questão foi eleita tema prioritário da agenda da entidade com o executivo estadual e federal. - A legislação tributária precisa ser revista e simplificada, de forma que o ônus e os riscos do setor privado sejam rapidamente atenuados. Não é possível termos uma legislação tributária que muda diariamente - diz Vieira.

Na esfera estadual, a intenção é promover mudanças nos prazos de recolhimento do ICMS e criar incentivos fiscais para alguns setores, como o têxtil, de confecção e couro, reduzindo o adicional existente em relação aos demais estados. Em termos federais, a preocupação é eliminar distorções identificadas pela federação na legislação que disciplina a nova PIS/COFINS.

Segundo Vieira, a frente para redução dos obstáculos ao desenvolvimento da indústria contará ainda com esforços nas áreas trabalhista, de meio-ambiente, infra-estrutura e logística, financiamento, defesa da concorrência e tecnologia. Trata-se do roteiro desenhado para tentar melhorar os indicadores do setor, que vem crescendo em índices inferiores ao resto do país. Pesquisa divulgada na última sexta-feira pelo IBGE mostra que, nos oito primeiros meses de 2004, a produção industrial do Rio de Janeiro aumentou 0,7%, ao passo que a média nacional foi de 8,8%.

A forte participação das atividades relacionadas ao petróleo na produção industrial do estado, que chega a 30%, não é vista por Vieira como um fator negativo.

- Produzimos mais de 80% de todo o petróleo e gás do país. São produtos extremamente nobres. Ainda assim, temos uma indústria diversificada, que produz siderúrgicos, químicos, cosméticos, medicamentos, veículos, alimentos e bebidas. Apesar do desempenho negativo da indústria extrativa (que registrou queda acumulada de 5,5% nos primeiros oito meses de 2004, segundo o IBGE), devemos levar em consideração o desempenho nos demais setores, que é de inequívoca recuperação.

Infra-estrutura e logística também são apontados por Vieira como alvo das iniciativas da Firjan.

- Temos um problema sério de conservação nas rodovias do estado, principalmente nas regiões Norte e Noroeste. Outro ponto que merece atenção são os portos. Quatro dos cinco terminais no estado possuem excelente potencial, mas todos apresentam problemas, principalmente nos acessos. Estou trabalhando pessoalmente junto ao governo federal para tirarmos do papel a construção do arco rodoviário que atenderá o porto de Sepetiba, considerado por nós um dos principais do Cone Sul - afirma.

Além da indústria do turismo, logística é um dos potenciais do estado que poderiam ser mais bem explorados, acredita o presidente da entidade. A posição geográfica, em sua avaliação, poderia alçar o Rio de Janeiro à condição de uma grande plataforma em que seriam utilizados, simultaneamente, as diversas modalidades de transporte de mercadorias.

- Isso beneficiaria empresas que têm a produção voltada para o mercado externo.

Para convencer empresas estrangeiras a instalarem plantas industriais no Rio de Janeiro, Vieira explica que a Firjan organiza missões ao exterior através do seu Centro Internacional de Negócios.

- É como se pegássemos pelo braço as empresas que demonstraram interesse em vir ao estado e, junto com elas, percorrêssemos todos os trâmites necessários. Do incentivo fiscal à ajuda de localização, passando por questões de financiamento e meio-ambiente, quando necessário.

Sem perder de vista os desafios, Vieira comemora feitos que considera positivos nos três mandatos consecutivos que cumpriu. Cita como exemplos a profissionalização do Pólo de Moda Íntima de Nova Friburgo, que responde pela produção de 25% da lingerie produzida no país, a instalação da montadora Peugeot em Porto Real e o desenvolvimento do setor de pedras decorativas, que hoje exporta para os principais centros de design e construção do mundo.

-Assumimos a responsabilidade de organizar e estimular as oportunidades de geração de emprego e renda no estado - diz.

Reeleito com 93% dos votos dos 101 sindicatos da indústria filiados à entidade, mesmo depois do nove anos à frente da Firjan, Vieira diz que aposta no retorno dos investimentos em responsabilidade social.

- A Firjan possui a maior rede de educação do estado. Atuamos da alfabetização de adultos à pós-graduação de executivos. Fomos a primeira federação do país a criar um Conselho Empresarial de Responsabilidade Social. Não se pode discutir o futuro de nossas empresas se não nos inserirmos nas principais questões da sociedade.