Título: Passaporte escorrega no idioma
Autor: Ana Carolina Gitahy
Fonte: Jornal do Brasil, 10/05/2005, País, p. A2

O tão alardeado projeto de integração do Cone Sul do presidente Lula não esbarra apenas nas rusgas entre Brasil e Argentina pela liderança no Mercosul. Apresentado semana passada com a promessa de adaptação ao bloco, o novo passaporte revela o descaso do governo brasileiro com o idioma do vizinho. Um texto de apenas 3 linhas, no qual o país pede que seja prestado atendimento aos portadores do documento, contém seis erros de ortografia. Na média, a cada duas palavras, uma está errada.

Mesmo aqueles que arranham apenas um pouco de 'portunhol' sabem que o conectivo ''e'' na língua dos países vizinhos vira ''y''. Ou ainda que o pronome ''lo'' não existe. O correto é ''el''. Mas no texto em espanhol do passaporte brasileiro, o governo pede ''ayuda e proteccion'' (faltando ainda o acento no ó) ''a lo'' titular do documento.

Logo a primeira palavra do texto ''Ruegase'' também aparece sem acento, da mesma forma que ''paises'' na mesma frase. O termo necessidade (necesidad em espanhol) foi aportuguesado ao usar '(ss' ''necessidad'').

Na mesma página, entretanto, as versões em inglês e francês do mesmo texto não apresentam um erro sequer, apesar de o Itamaraty ter abolido o caráter eliminatório dos idiomas no concurso para novos diplomatas.

Em desenvolvimento desde 1997, o documento foi apresentado semana passada. O principal objetivo é aumentar a segurança, facilitando o trânsito de brasileiros no exterior, além de promover a adaptação com o Mercosul. Para isso, a cor do passaporte usado pela maioria dos cidadãos - tradicionalmente verde- foi modificada para azul, tom do bloco. O nome ''Mercosul'' também aparece na capa, acima do nome ''República Federativa do Brasil'', apesar dos protestos de alguns nacionalistas. Estão sendo investidos cerca de R$ 332 milhões no projeto.