Título: Bancada faz pressão
Autor: Daniel Pereira e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 10/05/2005, País, p. A4

Os líderes dos partidos que apóiam o governo não aceitam ser responsabilizados pelas recentes derrotas do Planalto no Congresso. Apontados como culpados pela convocação do chefe da Casa Civil, José Dirceu, para uma audiência no Senado e pela derrota de Sérgio Renault para a vaga no Conselho Nacional de Justiça, os parlamentares garantem que o problema está no Executivo. Os líderes reclamam que o governo não cumpre os acordos fechados com senadores e deputados, o que dificulta o relacionamento com os liderados. - Política é compromisso. Como o Planalto quer uma ação de defesa do governo se não existe carinho na contrapartida? - questiona uma liderança do Senado.

Os líderes também pedem a nomeação de um coordenador político com poder de decisão no lugar de Aldo Rebelo, considerado educado, mas sem meios para garantir pagamento de faturas.

- Aldo tem a amizade dos parlamentares, mas não manda nada. Se um ministro não obedecer ao Dirceu, está na rua - declara um líder peso pesado do Senado.

O líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro, concorda que é preciso colocar um operador político real no cargo.

- Não sabemos a quem recorrer. O Aldo é um bom homem, mas não tem autoridade política. Não adianta ser um bom técnico, sem o respaldo da diretoria.

Para Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo, a sensação é de uma ação sem comando. Ele suspeita de que a desarticulação é proposital:

- Tem gente fazendo corpo mole para sustentar a tese de que é preciso mudança. Isso só tem um nome: boicote.

O PT é o partido que mais pressiona o Planalto pela devolução da articulação política a Dirceu. Se concretizada, a efetivação pode até melhorar o desempenho da base, mas tende a piorar a relação com a oposição.

De acordo com os líderes, o governo corre o risco de sofrer novas derrotas caso continue a descumprir compromissos firmados. Entre estes, a liberação de emendas e a nomeação para cargos de indicados por parlamentares. Este segundo ponto foi decisivo, por exemplo, para a reprovação, pelo Senado, do nome de José Fantine para a presidência da ANP. O caso não é isolado. Dois senadores do PMDB ainda não perdoaram o Planalto por ter desistido de efetivar indicados na diretoria na Infraero.

- Base alegrinha vota tudo - garante o líder do PL na Câmara, Sandro Mabel.