Título: Mercosul deve voltar às origens
Autor: Liliana Lavorati
Fonte: Jornal do Brasil, 10/05/2005, Internacional, p. A10
Ex-presidentes do Brasil e do Uruguai defendem retorno de plano que integrou continente à forma original de mercado comum
O ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP) defendeu ontem a retomada do projeto original do Mercosul, de se constituir em um verdadeiro mercado comum e não apenas em uma área de livre comércio. ¿ Um mercado comum é mais amplo e recuperar a idéia inicial é o que começa a ser feito pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ¿ afirmou Sarney durante o encontro Olhares sobre 1985: 20 anos de redemocratização do Brasil ¿ Debate entre Estadistas.
Sarney atribuiu a ¿hipotecas históricas¿ a rivalidade existente entre o Brasil e a Argentina, inclusive as recentes disputas entre os dois países.
¿ O Brasil nunca disse que quer ser o líder hegemônico, podemos ter papéis complementares na economia regional e mundial ¿ acrescentou Sarney durante o evento promovido pelo Jornal do Brasil e pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), com apoio da Gazeta Mercantil e revista Forbes. Além de Sarney, participaram os ex-presidentes da Argentina e do Uruguai, Raúl Alfonsín e Julio Maria Sanguinetti. Mais de 350 lideranças políticas, empresariais e acadêmicas assistiram à conferência.
¿ No início dos anos 80, eu, então presidente, e Alfonsín, pela Argentina, lançamos os pilares do Mercosul pensando no modelo europeu, de um mercado comum. Mas depois nossos sucessores o transformaram em área de livre comércio ¿ afirmou Sarney, referindo-se aos governos Collor, no Brasil, e de Menem, no país vizinho. O ex-presidente Sanguinetti compartilha da mesma opinião:
¿ O espírito dos anos 80 não apenas promoveu o reencontro da nossa região com a democracia, tirou nossos países do isolamento internacional, mas lançou as bases para a integração e plantou as sementes para o Mercosul ¿ disse o ex-presidente, ressaltando a necessidade de avançar na integração entre os três países, não apenas no aspecto comercial, mas também cultural e físico.
¿ São muitos os desafios que ainda nos restam, temos de reduzir as desigualdades sociais e desenvolver políticas de educação capazes de inserir nossas nações na sociedade do conhecimento, que é a base da riqueza no século 21 ¿ argumentou.
Ao abrir o seminário, o presidente do Jornal do Brasil e da Gazeta Mercantil , Nelson Tanure, sublinhou que, ¿graças a estes grandes estadistas, formaram-se as bases para o Mercosul, importante plataforma de projeção de nossa região para competir na economia mundial.
Acrescentou que os três estadistas, ao comandarem a redemocratização na década de 80, contribuíram para dissipar um passado de desentendimento e desconfiança na região.
¿ As lições destes grandes homens servem para melhor compreender os desafios que Brasil, Argentina e Uruguai enfrentaram nestes últimos 20 anos e ainda para traçar estratégias e cenários para nosso futuro comum ¿ enfatizou.
Para a presidente do Conselho Curador da Faap, Celita Procópio de Carvalho, não há como celebrar sem recordar o esforço solidário e recíproco de Alfonsín e Sanguinetti.
¿ O fortalecimento da democracia foi fundamental para as conquistas posteriores e para as que ainda temos de alcançar, como maior justiça social.