Título: Esperança para as lesões cerebrais
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 10/05/2005, Saúde & Ciência, p. A12

Caso de americano que recuperou a visão, a fala e a memória mostra como o órgão ainda é bastante desconhecido pela ciência

O cérebro ainda guarda muitos mistérios para a medicina, revelando, algumas vezes, boas surpresas. Na semana passada, o ex-bombeiro de Nova York Donald Herbert, que permaneceu cego, mudo e sem memória por dez anos, recobrou esses sentidos, surpreendendo a família e os médicos por se tratar de um caso muito raro.

- Os exames que temos para diagnosticar lesões cerebrais não permitem fazer um prognóstico da recuperação, fornecem informações limitadas - explica Ernesto Catharino, membro da coordenação do CTI do Quinta D'Or, hospital no Rio de Janeiro. Por isso, é tão difícil determinar quando existe a possibilidade do paciente se recuperar completamente de lesões no cérebro.

O exemplo do americano representa uma esperança para pessoas com esse tipo de problema e para familiares que sofrem com um ente querido que está vivo, mas praticamente não interage com o meio.

Herbert, de 44 anos, tentava apagar um incêndio - em 1995 - quando um reboco caiu sobre sua cabeça ocasionando a interrupção do fornecimento de oxigênio no cérebro. Ele ficou em coma por três meses e acordou sem visão, fala ou memória. Quando, na semana passada, recobrou seus sentidos e perguntou quanto tempo tinha permanecido sem eles, se espantou quando lhe contaram ''dez anos''. Achava que tinham sido poucos meses.

De acordo com Sérgio Novis, professor de neurologia da UFRJ, uma provável hipótese do caso de Herbert é ter entrado em ação uma propriedade do cérebro, chamada neuroplasticidade:

- É quando uma região do órgão assume a função de outra - explica.

De acordo com o neurologista, essa capacidade cerebral foi descoberta pelo cientista brasileiro Joaquim Brasil Neto, por meio de uma experiência com orangotangos. A mão do animal era amputada e depois, por meio de eletrodos, se criavam estímulos, com eletrodos, da área cerebral correspondente à função de movimentar esse órgão. Em um primeiro momento, não havia resposta, porque a mão não estava mais lá, mas posteriormente o macaco piscava o olho.

- Isso mostra que a parte do cérebro que fazia a mão se movimentar, passou a exercer a função de piscar o olho - disse.

A neurologista do Pró-Cardíaco Maria Lúcia Mendonça, concorda com a hipótese de Novis e acrescenta outra.

- No caso da visão, pode ter havido uma interrupção desta função, sem a morte dos neurônios - afirma. Viabilizando assim a recuperação.

Embora sendo estágios de danos cerebrais diferentes, um caso que também surpreendeu os médicos foi o de Thiago Waldeck. Há quatro anos ele sofreu um acidente de moto. Depois de uma parada cardíaca de 15 minutos, o rapaz - com 16 anos na época - ficou em coma por menos de um mês, mas o quadro se agravou para um estado vegetativo persistente.

- Após nove meses em que o meu filho não interagia com nada, como uma plantinha, ele começou a emitir sons e responder a estímulos - conta a mãe, Rosânea Monteiro. - Hoje eu mostro uma lista de opções para ele comer e com a cabeça Thiago responde.