Título: Sabrina Lorenzi
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 10/05/2005, Meta de inflação divide analistas, p. A19

Mercadante cobra alvo de 5,5% nos próximos dois anos. Pastore defende sistema

No momento em que o mercado torna praxe revisar projeções de inflação, o senador Aloizio Mercadante sugeriu ao Conselho Monetário Nacional (CMN) uma meta de 5,5% com folga de 2,5 pontos percentuais tanto para 2006 como 2007 - ou seja, uma taxa de até 8% que daria ao país mais espaço para priorizar outras questões, segundo o economista. Em junho, representantes dos ministérios da Fazenda, do Planejamento e do Banco Central se reúnem para a definição de nova meta e o conseqüente rumo da política monetária. - É muito ruim alterar meta ao longo do ano em curso; é melhor ter meta realista e cumpri-la do que estipular metas muito baixas que não se cumpre de um lado e se pressiona a política monetária em demasia do outro - disparou o senador, no mesmo evento em que o ministro Antonio Palocci defendia a meta de 4,5% para 2006.

- Para este ano, o Banco Central já fez o que deveria fazer. Em junho o CMN vai definir a meta para 2007 - disse Palocci, sem abrir perspectiva de mudanças para o próximo ano.

Mercadante lembra que na última reunião do CMN para a definição das metas, em junho passado, defendeu 5,5% para 2005, número mais folgado do que os 4,5% estipulados inicialmente e que acabaram sendo mantidos. E lembrou com entusiasmo que o BC fora obrigado a rever a meta para 5,1%. O senador sugeriu também a flexibilização do prazo para convergência dos índices de inflação para a meta, de 12 para 18 meses. Assim, afirmou, seria possível acomodar a inflação ''sem pressionar demais a política monetária, com repercussões na política fiscal e no comprometimento do crescimento econômico''.

- Nos últimos 60 anos, só em duas ocasiões a inflação ficou abaixo de 5% no Brasil, em 1946 e em 1998 - apontou.

A proposta foi rechaçada pelo economista Affonso Celso Pastore, para quem o aumento da inflação não permitirá mais crescimento econômico.

- É preciso, sim, apertar a política fiscal para não pesar excessivamente a política monetária - criticou.

Pastore atacou também os defensores da depreciação cambial, sustentando que estes especialistas ''estão, na prática, cinicamente pedindo arrocho salarial''.