Título: Produtor comemora MP dos transgênicos
Autor: Neila Baldi e Lucia Kassai
Fonte: Jornal do Brasil, 18/10/2004, Economia & Negócios, p. A-19

Agricultores querem agora evitar pagamento de royalties

A Medida Provisória 223, publicada no Diário Oficial da União na sexta-feira e que regulamenta o cultivo de soja transgênica, apenas legalizou um plantio que estava praticamente definido. - Com ou sem MP nós iríamos plantar. Agora, não estamos mais fora da lei - diz Oli Falco, produtor de soja de Júlio Castilhos (RS) e ferrenho defensor da soja transgênica.

- Com a alta dos custos de produção e a queda dos preços da soja, a aprovação dos transgênicos é um grande alívio para os produtores, que poderão reduzir gastos - revela Blairo Maggi, governador do Mato Grosso e maior produtor de soja do mundo. - Acredito firmemente nas vantagens competitivas dos transgênicos.

O custo de produção da soja é de US$ 400 por hectare. Maggi calcula que, com os transgênicos, o custo pode ser reduzido de 7,5% a 12,5%, ou US$ 30 a US$ 50 por hectare.

- Vai ser o ano do transgênico sair do Rio Grande do Sul e o Brasil descobrir quanto se cultiva de grão geneticamente modificado - comemora Carlos Cogo, analista da Cogo Consultoria Agroeconômica.

Estima-se que os agricultores gaúchos plantem soja transgênica ilegalmente há pelo menos seis anos. A partir de agora, os produtores de soja transgênica e convencional terão que assinar um termo identificando que tipo de grão plantam. O termo é documento importante na concessão do crédito oficial para o plantio e comercialização da safra.

O governo estima que em 2003/04 os agricultores tenham cultivado 13,2% da área com organismos geneticamente modificados. Para esta safra, a participação deve crescer para 20%, prevê a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.

Com a legalização temporária do plantio, a Monsanto - detentora da patente da semente transgênica - já avisou que vai cobrar royalties de R$ 1,20 por saca, o dobro dos R$ 0,60 cobrados na safra 2003/04. Os produtores devem se reunir amanhã no Rio Grande do Sul para discutir o tema.

- A semente foi multiplicada pelos agricultores, não foi comprada de nenhuma empresa - defende Márcio Freitas, da Organização das Cooperativas Brasileiras.

- Vamos batalhar para pagar os R$ 0,60 por saca cobrados em 2003/04 - enfatiza o produtor Oli Falco.

Ele diz que, apesar dos royalties, os transgênicos são vantajosos. O agricultor pagaria R$ 48 por hectare à Monsanto e R$ 25 pelo uso do herbicida. No cultivo convencional, o produtor rural gasta R$ 200 por hectare somente com os defensivos.

Maggi defende a cobrança dos royalties.

- Pagar direitos autorais é uma forma de realimentar o sistema e financiar novas pesquisas que vão beneficiar os agricultores - explica.

Ele diz que há oito anos a Fundação Mato Grosso cobra royalties pelas sementes que desenvolve. A diferença é que os royalties estão embutidos no preço das sementes.