Título: Discursos políticos
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 11/05/2005, País, p. A2

O presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, acendeu ontem o lado político da Cúpula América do Sul-Países Árabes, ao afirmar que é ''uma negação da justiça, que não podemos aceitar, a tragédia vivida há mais de meio século pelo povo palestino''. Conclamou o novo bloco em formação e a comunidade mundial a encontrar uma solução para que Israel ''se submeta às leis internacionais e abandone as terras ocupadas'', a fim de que os palestinos tenham direito a um estado soberano O pronunciamento de 20 minutos do presidente argelino - que falou em nome da Liga Árabe, logo depois da saudação de abertura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - foi muito aplaudido pela maioria das mais de duas mil pessoas que assistiram à solenidade. Lula leu um discurso moderado de pouco menos de três páginas, no qual destacou que ''nosso grande desafio é desenhar uma nova geografia econômica e comercial internacional'' e ''fortalecer um espaço político que contribua para a construção de um mundo de paz, democracia e justiça social''.

Abdelaziz Bouteflika discursou também na qualidade de co-presidente da Cúpula de Brasília. Da mesma forma que Lula, ressaltou os antigos ''elos'' que ligam os árabes aos sul-americanos, não só em termos culturais, mas também em face da imigração, que provou ser possível, neste Continente, ''a união e a convivência harmônica de povos diferentes''. Nesse sentido, defendeu ''um futuro comum com base no passado'' entre países árabes e sul-americanos, para o combate ao ''terrorismo e aos crimes internacionais''.

O presidente Lula alertou que ''o esforço (dos países sul-americanos e árabes) só será recompensado se soubermos transformar os frutos do desenvolvimento em instrumentos eficazes para a diminuição das desigualdades sociais, a promoção dos direitos humanos e o aperfeiçoamento das instituições democráticas''.

- Não estamos reunidos apenas em busca de vantagens econômicas e comerciais - disse Lula. - Defendemos a democratização dos organismos internacionais para que a voz dos países em desenvolvimento seja ouvida. Buscamos um comércio justo e equilibrado, livre de subsídios impostos.

O secretário-geral da Liga Árabe, Amre Moussa, também foi um dos oradores da solenidade. Ele sublinhou igualmente que os países árabes e sul-americanos não devem buscar ''apenas desenvolvimento econômico, mas também mais justiça no mundo''. Acrescentou que o bloco em formação deve - além de ''trabalhar contra o terrorismo'' - lutar pelo cumprimento dos princípios constantes da Carta da ONU, sobretudo ''os de justiça e paz, dando ao povo palestino, que já sofreu tanto, a possibilidade de reencontrar a unidade nacional''.

Em nome na Comunidade Sul-Americana das Nações, discursou o presidente do Peru, Alejandro Toledo. Ele frisou que o encontro não podia ser apenas de comércio e de investimentos, mas uma oportunidade de se estabelecer um bloco internacional que possa ''atravessar a globalização com um rosto mais humano''.