Título: Volta de Kirchner surpreende o governo
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 11/05/2005, País, p. A3

Porta-voz da Casa Rosada afirma que retorno antecipado não representa nova crise de relacionamento entre os dois países

A decisão do presidente da Argentina, Néstor Kirchner de voltar ontem a Buenos Aires, um dia antes do encerramento da Cúpula América do Sul-Países Árabes, que está marcado para hoje, pode ter sido mais uma das ''caneladas'' do argentino no Brasil, avaliaram extra-oficialmente integrantes do Itamaraty. O retorno repentino, no entanto, pegou de surpresa integrantes do governo brasileiro. Mas não representa mais um indício de crise no relacionamento entre os dois países, segundo o porta-voz da Casa Rosada, Miguel Núñez. - O presidente Néstor Kirchner considerou cumprido o objetivo de redefinir a relação política e comercial com o Brasil e resolveu antecipar para esta tarde seu regresso de Brasília a Buenos Aires - declarou Núnez, ontem, à imprensa argentina.

O retorno à capital argentina aconteceu antes mesmo de um encontro reservado que Kirchner teria com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele também não comparecerá ao anúncio oficial do documento final do encontro e à entrevista coletiva prevista para as 12h30 de hoje.

- O que tinha de acontecer já aconteceu hoje (ontem). Amanhã (hoje), só vão acontecer efemérides - alegou o chanceler argentino, Rafael Bielsa, ressaltando ainda que Kirchner já tinha tido encontros bilaterais com o presidente Lula.

Na segunda-feira, os dois presidentes jantaram juntos na residência oficial da Granja do Torto, em Brasília. O encontro, do qual também participou o presidente venezuelano Hugo Chávez, serviu para aparar arestas entre os dois principais integrantes do Mercosul. Arestas que emergiram, de novo, depois de Bielsa criticar na semana passada, em entrevista ao Clarín, a política externa brasileira.

O primeiro gesto de reaproximação entre os países foi a decisão de incluir, na declaração final da cúpula, uma condenação à Grã-Bretanha pelo fato de considerar as Ilhas Malvinas território britânico e sujeitar a área às disposições da Constituição da União Européia. O governo argentino reivindica a posse das ilhas, ocupadas no início do século XIX pela Grã-Bretanha, que as batizaram de Falkland.

- Referências às Ilhas Falkland como território britânico no exterior constam, em termos idênticos, de tratados da União Européia desde a adesão do Reino Unido em 1973. A posição do Reino Unido em relação a sua soberania sobre as Ilhas Falkland é conhecida - reagiu a Embaixada Britânica no Brasil, em nota à imprensa.

O governo argentino também colheu bons sinais na área econômica. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, disse que teve uma reunião produtiva com o ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna. Além disso, Palocci prometeu ir a Buenos Aires no próximo mês para continuar negociando a agenda comum dos dois países.

Com Folhapress