Título: Sacrifício de inocentes
Autor: Antonio Sepulveda
Fonte: Jornal do Brasil, 11/05/2005, Outras Opiniões, p. A9

Semana passada, no município de Marabá, Estado do Pará, morreram os trigêmeos recém-nascidos de uma infeliz adolescente, porque a maternidade não dispunha de incubadoras. Temos todos os motivos do mundo para acusar o poder público de negligência e inaptidão; e temos fundamento para desconfiar que a incúria teve causa no desvio descarado de verba da saúde para finalidades reprováveis e desastrosas. Dizem que a responsabilidade é municipal ou estadual. Pode ser ou tanto faz. O fato pertinente está na grande dúvida sobre o que os comissários do governo federal fazem com a imensa dinheirada da CPMF. Em meio a tanta falta de transparência, como podemos saber, com toda a certeza, se a verba oriunda desse imposto, que deveria ser exclusiva da saúde, é empregada em saúde e somente em saúde? É tanto dinheiro que o Brasil deveria ter o melhor sistema público de assistência médica do planeta. Mas não tem.

Muito pelo contrário: os hospitais estão caindo aos pedaços; não há leitos bastantes para os baixados, os profissionais são escassos e recebem salários mesquinhos; os equipamentos estão velhos e inutilizados pelo desgaste, enquanto outros, novinhos em folha, importados, caríssimos, apodrecem na suspeita burocracia alfandegária; as filas de doentes sem atenção serpenteiam ao relento pelas calçadas onde, não raro, vemos jornais a cobrir o cadáver de alguém que não resistiu à espera interminável, cercado de velas acesas por caridosas mãos invisíveis. Descaso? Indiferença? Indolência? Incompetência? Descaminho? Corrupção? Seja lá qual for, a explicação não deve ser boa, não deve ser aceitável, não deve ser decente.

Ao mesmo tempo, beneficiados por recursos governamentais que poderiam, com sobras, ter salvo as vidas daqueles três bebês, os salteadores do MST, que posam de trabalhadores sem terra, marcham, sob a égide da reforma agrária, a pregar, abertamente, uma revolução maoísta. São bandoleiros que invadem a propriedade alheia, pisoteiam plantações, ocupam e destroem repartições públicas, bloqueiam estradas e pretendem eliminar a burguesia a golpes de foice. E toda a superprodução dessa marcha macabra sustenta-se em doações do governo do Estado de Goiás e da Prefeitura de Goiânia, além da habitual mesada paga pelo comissariado petista.

Uma gigantesca estrutura foi montada pelo MST. Contam com 400 ônibus, 100 banheiros químicos, oito caminhões-pipa, além de seis ambulâncias. No acampamento onde tomam banho e se alimentam, montaram-se 23 cozinhas que produzem cardápios diferenciados, respeitando as preferências de toda aquela malta de fanáticos. São 20 toneladas de alimentos por dia. Cada manifestante recebeu mochila, caderno, produtos de higiene, água e, é claro, a indefectível cartilha vermelha do movimento. Dez mil radinhos garantem a pregação socialista e o toar de marchas político-militares e revolucionárias, transmitidas por um trio elétrico. Uma delas, a Marcha Brasil, tem um refrão politicamente explícito e literariamente medíocre: ''Marcha Brasil, ergue a tua voz / Um novo país só depende de nós / Um país socialista queremos construir / Junto com o povo queremos resistir / É hora, camaradas / Não podemos desistir''. O MST, naturalmente, não quis informar o custo total dessa orgia ideológica de rimas pobres. Sabe-se, contudo, que o governo do Estado de Goiás e a Prefeitura de Goiânia doaram cerca de R$ 400 mil. Quantas incubadoras poderiam ser adquiridas com esse montante?

A triste realidade está no sacrifício de frágeis inocentes, por falta de verbas aplicadas na saúde, enquanto se usa o dinheiro do contribuinte para o subsídio de uma horda de malfeitores, liderada por trotskistas fanáticos, que atuam, livremente, fora da lei e com extrema truculência.