Título: Refundação
Autor: Jorge Bornhausen *
Fonte: Jornal do Brasil, 11/05/2005, Outras Opiniões, p. A9

O verbo refundar carrega uma benfazeja idéia de mudança. Mas também indica permanência, retomada, fidelidade a raízes que não se quer abandonar. É prodigioso o paradoxo das palavras que driblam a semântica e, embora se contradigam, expressam perfeitamente o que queremos dizer.

Pois é justamente o que o pretendemos com o Congresso da Refundação do PFL.

Vamos assumir um novo e inédito repertório de idéias e projetos, políticos e econômicos, e apresentá-los aos brasileiros como programa do partido. Pretendemos vigorosa ruptura com o anacronismo e lançar ao mar tudo o que por acaso exista de equívoco e imprestável na nossa carga de compromissos. Estudamos um novo plano de navegação e é curioso que façamos isso justamente para honrar a bandeira que desfraldamos há 20 anos e que hoje recebe crescentes aplausos do povo brasileiro, graças à nossa firme ação oposicionista.

Embora seja um ato voluntário e interno, a Refundação do PFL é acontecimento nacional - finalmente somos um dos quatro maiores partidos brasileiros e nossas bancadas têm atuação freqüentemente decisiva no Congresso - e deve ser considerado o lançamento de plataforma para as eleições de 2006.

Por isso, não faltam razões para que os temas que marcarão a Refundação do PFL transbordem para o debate nacional.

A primeira delas - a idéia síntese - é que consideramos essencial mudar os rumos da política econômica. Decidimos denunciar o conformismo continuísta do atual governo e trazer para o centro das decisões o binômio ''desenvolvimento-emprego''.

Reunimos o que há de melhor no pensamento acadêmico e na práxis das consultorias econômicas - que ganham a vida processando e refletindo objetivamente os fatos, para atender seus clientes - e lhes pedimos diagnósticos e sugestões. Realizamos seminários, debates, confrontamos posições divergentes, montamos simulações, exploramos, sem preconceitos, a criatividade desses especialistas e concluímos que, se for rompido o gargalo da mediocridade e da acomodação, o país dará o salto de crescimento que precisamos. Mas, não apenas preconizamos, propomos como fazer e nos comprometemos a executar, se recebermos mandato popular para tal.

Criamos uma receita: cortar gastos públicos para termos menos impostos e mais empregos - cuidando que os ingredientes necessários estejam ao alcance da mão - e vamos propor à sociedade delegação e poderes para executá-la.

Para tanto, estamos providenciando a adequação do próprio partido, alterações institucionais e, principalmente, novas formas de militância e ação parlamentar.

Mas, desde sempre, que fique claro uma coisa: o Congresso da Refundação não é um golpe de marketing. Realizamos uma tentativa de atualizar um partido que atinge seus 20 anos de existência e, tendo ajudado a implantar e consolidar a democracia, não admite que tal avanço civilizatório regrida pelos efeitos da estagnação econômica e do desemprego, bem como da inépcia com que questões fundamentais como educação, saúde e segurança, são negligenciadas.

A experiência oposicionista do PFL - que assumimos pública e solenemente em novembro de 2002, mal encerradas as apurações com a vitória do presidente Lula - foi muito enriquecedora e, em dois anos e meio, deu musculatura e ampliou a densidade moral do partido. Perdemos a chamada gordura adiposa e doentia e estabelecemos esforços para que a disciplina interna, permita-nos adotar bandeiras comuns nas batalhas decisivas. A sabedoria parlamentar desenvolveu a lógica de que a redução de bancadas oposicionistas, desde que mantidas em determinadas proporções, costuma ampliar sua eficiência. Batalhas como a derrota da MP 232 - que desmontou a arrogância e falta de fundamentos da chamada ''base governista'' - e o esclarecimento sobre a violência constitucional da intervenção nos hospitais municipais do Rio, condenada por 10 x 0 pelo Supremo Tribunal Federal em histórica decisão unânime, mostraram que a Oposição, em que o PFL se engaja tão firmemente, tem condições de operar os instrumentos da nossa democracia.

Pois é sobre a pedra dessa vitalidade partidária construída com tanta humildade e trabalho que vamos promover a Refundação do PFL, cujo lançamento se realizará dia 20 de maio, no Rio de Janeiro.

*Jorge Bornhausen é presidente nacional do PFL