Título: Guerrilha contra-ataca no deserto
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 11/05/2005, Internacional, p. A12
Tropas americanas são surpreendidas com resistência e enfrentam luta casa a casa em vilas no Norte
RAMADI - A resistência enfrentada pelo contingente americano e iraquiano, que desde sábado faz uma operação na região desértica de Al Qaim, perto da fronteira com a Síria, surpreendeu os estrategistas dos EUA no Pentágono, que admitiram enfrentar um inimigo ''duro''. Embora o comando tenha anunciado a morte de pelo menos 100 guerrilheiros na batalha, ontem a resistência deu mostras de seu poder de fogo ao sustentar um combate de casa a casa na vila de Obeidi, na margem Sul do Rio Eufrates. A vila é uma das localidades na província de Al Anbar consideradas refúgio rebelde. Além disso, comandos seqüestraram o governador da província iraquiana, Raja Najaf, e organizaram um pesado ataque a uma base dos EUA nos arredores de Al Qaim, na mesma região.
O governador foi levado por homens armados junto com quatro seguranças, quando seguia de carro de Al Qaim para Ramadi. Segundo seu irmão, ele vinha sendo pressionado por homens do jordaniano Abu Musab Al Zarqawi, líder da Al Qaeda no país, para que suspendesse os ataques que sua tribo fazia aos acampamentos rebeldes.
De acordo com a descrição de alguns dos 1 mil soldados que participam da Operação Matador e estiveram em Al Obeidi, pelo menos 200 guerrilheiros se entrincheiraram na vila, cujos moradores fugiram em pânico diante do peso dos combates. Fortemente armados, com foguetes, metralhadoras pesadas e franco-atiradores, ocupavam os terraços e varandas das casas e bunkers fortificados com centenas de sacos de areia em pontos estratégicos da cidade. Entre os combatentes haveriam sírios, sauditas, jordanianos e palestinos.
A luta, feroz, passou a ser casa a casa, estendendo-se ainda às localidades de Rommana and Karabilah. Ontem pelo menos dois soldados americanos foram mortos, um deles atingido por um rebelde que se escondia sob um gradil numa sala. Outro ficou gravemente ferido quando cuidava de um companheiro atingido dentro de um quarto e os insurgentes jogaram uma granada nos dois pela janela.
- É horrível, há atiradores por toda parte, foguetes explodindo, acabou a comida e a energia foi cortada. Só hoje, cinco morteiros explodiram no quintal da minha casa. Estamos mentalmente exaustos - contou um dos moradores, Abu Omar al-Ani. Caças F-15 e F-18 lançaram bombas de 500 kg sobre a cidade.
De acordo com um oficial americano, além de endurecer a luta em Obeidi - com a vinda de reforços que a todo momento cruzavam o Eufrates de barco - os rebeldes lançaram um contra-ataque a um comboio que deixava Camp Gannon em direção ao local da operação. Usando foguetes, armas leves e dois carros-bomba dirigidos por suicidas, a coluna conseguiu atingir um jipe Humvee blindado, sem ferir os ocupantes. Um tanque dos EUA destruiu o segundo carro-bomba.
Enquanto isso, a insurgência voltou a atacar em Bagdá, desta vez com dois carros-bomba, que mataram nove pessoas. A primeira explosão aconteceu nas proximidades da Praça da Libertação e deixou oito mortos, duas horas antes de a segunda bomba explodir, no Oeste da cidade, matando mais uma pessoa. Cerca de 17 ficaram feridas na primeira explosão, cinco delas gravemente, contra um comboio americano de três carros de combate. Os soldados dos EUA foram hostilizados pelos próprios policiais iraquianos, que os responsabilizaram pela onda de violência no país. Só em Bagdá, já foram 138 atentados com carros-bomba desde abril. O segundo ataque atingiu um quartel da polícia no bairro de Al Jaderiya.